Por Lucas Jolondek
Foto: Lucas JolondekAirerê e Kilezum retrata a jornada de romance entre um pássaro e um lagarto, inspirado no conto clássico O amor de um pássaro por um lagarto de Gero Camilo. Os atores se expressam através da dança trazendo o melodrama para seus personagens, fazendo de seus corpos suas maiores ferramentas de comunicação em cena. Nesta segunda, o palco B do Cine-Teatro Ópera foi aberto para o espetáculo apresentado pelo Grupo de Teatro Arkhetypos, de Natal (RN), como parte da programação do 53° Festival Nacional de Teatro de Ponta Grossa (Fenata).
Airerê e Kilezum são retratados como animais que se conhecem e iniciam sua história de romance animal entre si. O romance é proibido por conta de suas vivências distintas, que transformam sua paixão em um romance impossível. Se Aierê descer dos céus, ele será devorado pela família do lagarto, mas, se Kilezum tentar voar, ele se transformará naquilo que não é destinado a ser. A história é marcada por momentos em que o proibido é o único caminho. Um deles pode sucumbir. Mas qual? A dúvida permanece durante toda a apresentação. Um romance que não tinha chances de dar certo. No fim, é isso que ocorre. A peça se encerra com Aierê sendo devorado por seu amado.
Mesmo exótico, o tema se encaixa em várias causas e movimentos de proibição em relacionamentos no momento atual. O motivo do impedimento do casal era apenas por suas vivências distintas? Ou havia outro motivo? A narrativa deixa isso em aberto à interpretação do público. A dança acompanha todos os momentos da peça, trazendo não apenas elementos da dança em palco, mas a comunicação dos dois personagens sendo precisamente articulada ao movimento, entre olhares confusos, relações sexuais e músicas autorais do espetáculo.

“Eu estava muito interessado em um trabalho de desconstrução e desaprendizagem da linguagem, tanto no ponto de vista teatral quanto na dança”, explica Makarios Maia, diretor da peça, ao justificar a maneira que escolheu de expressar a dança no projeto. Ele explica que a escolha de dois homens de porte físico destacado teve o objetivo de mostrar a necessidade de retirar suas carcaças e valorizar o interior. “Eu queria arrancar deles a forma mais leve, e mesclar a brutalidade que os atores transmitem, junto de uma sensibilidade que eles precisavam para interpretar o casal de bichos”, relata.
Robson Haderchpek, ator que deu vida a Kiluzun, o lagarto, ressalta a conexão entre as diferentes figuras retratadas. “As figuras se instauram em nosso corpo e elas são únicas. Mas quando os dois se juntam, é uma conexão até o ponto que o meu lagarto único se torna um lagarto mesclado ao pássaro, transformando o casal em apenas um”.

Leônidas, o intérprete do pássaro Airerê, define sua atuação como uma porção de um todo. “Nós tivemos um trabalho de orientação em que construímos as relações entre os personagens e, depois, chamávamos o Makarios para mostrar o que havíamos criado juntos. Assim, construímos praticamente toda a conexão entre o lagarto e o pássaro. Chega um momento na vida em que você percebe que vai precisar devorar o seu amor”, afirma.
O Fenata começou no último domingo (09/11), com uma programação com mais de 30 eventos. O festival conta com mostras adulta, infantil, científica e mostras especiais. O evento se estende até quinta-feira (13/11). Além de companhias de Ponta Grossa, o Fenata também recebe convidados especiais como a Cia Risas, de Curitiba, e o Grupo de Teatro Apanela, de São Paulo.
