Por Vinicius Orza
Foto: João Pedro Agostinho/ASCOM Pref. TibagiO Carnaval é uma das festas mais típicas do Brasil, e que anualmente traz centenas de pessoas para as mais diversas cidades em que ocorre tal evento, servindo acima de tudo como um forte atrativo turístico e cultural. A tradição que surgiu a partir de antigas celebrações pagãs já foi marcada no imaginário do povo tupiniquim, algo que se deve muito à incorporação de tais acontecimentos ao calendário religioso, seguido pela maioria da população. O clássico período de cinco dias seguidos repleto de exageros – e até mesmo promiscuidades, como conhecido no jargão popular – antecede a resguardada época da Quaresma, e possui forte influência da cultura africana, indígena e europeia, estas que já são correlacionadas ao âmago de nosso povo.
No século XIX, o Carnaval consagrou uma identidade mais própria, munido de desfiles, blocos e escolas de samba, que marcam uma festividade presente anualmente que faz o povo parar para simplesmente viver sem preocupações durante aquele período que hoje já está consolidado como um dos maiores eventos culturais do país. O impacto não pára no meio cultural, pois a economia e o turismo local também servem como chamarizes para haver foco nos investimentos dessa festa, que muitas vezes denotam o maior atrativo de determinada cidade. Um exemplo recente que comprova a influência de uma festa para beneficiar a cidade que a reside tem sido o Todo Mundo no Rio1, evento cultural que surgiu em 2024 no Rio de Janeiro após o show gratuito da artista pop Madonna, promovido pela Prefeitura.
Se festas assim tem uma possível força tão reconhecida nacionalmente ao ponto de deslocar turistas de diversos lugares interessados no evento em questão, por que ainda há certos governos que insistem em não priorizá-las da devida forma que merecem? O problema de desvalorização da cultura do Carnaval tem assolado a cidade de Tibagi – cerca de 20 mil habitantes e localizada nos interior do Paraná, na região dos Campos Gerais – há alguns anos. Antes reconhecida como sede de uma das maiores festas típicas do estado, e senão a maior – já tendo tido inclusive a alcunha de Maior Carnaval do Interior do Paraná, difundido por muito tempo por aqueles que o frequentavam -, hoje tem enfrentado um momento de baixa nos aspectos turísticos do local. O município possui orgulhos de sobra para exibir, afinal ele detém o posto de segundo maior território no estado e conta com o atrativo Cânion Guartelá, reconhecido internacionalmente como o sexto maior do planeta. Tais fatores se somam à riqueza ambiental e se tornam fortes opções de visita que agradam os turistas dispostos a conhecer as belezas naturais da mata atlântica presente na região. É fato que o Carnaval de Tibagi tem o poder de alavancar o turismo e enaltecer ainda mais o poder do nome construído do município, porém, o cancelamento do que viria a ser uma volta às raízes do evento escancarou um claro problema em sua gestão pública.
A intenção é oferecer uma série de atrações internacionais anuais até 2028 para a população de forma acessível na Praia de Copacabana, sem a cobrança de ingressos ou outros impeditivos financeiros que poderiam impedir o público de participar. O último ato foi o show de Lady Gaga no terceiro dia do mês de maio, que atingiu a impressionante marca de cerca de 2.1 milhões de pessoas presentes para o espetáculo, o maior público para uma artista feminina na história – e ocupa a quinta posição na colocação geral -. O show não só se mostrou como um sucesso de público e crítica, como também turístico, fato que se prova pelo alto volume de visitantes presentes no Rio naquela semana, além da escassez de hotéis e pousadas disponíveis, afinal, a maioria delas já estava alugada pelos fãs da cantora que estavam por lá

A Prefeitura de Tibagi divulgou em suas redes sociais no dia 22 de janeiro um comunicado de que seria feito o cancelamento do Carnaval de 2025 em detrimento de priorizar a recuperação dos danos causados pelas fortes chuvas que atingiram o município no começo do ano. Os estragos atacaram a gestão de supetão, que precisou tomar ações emergenciais para conter os alagamentos e inviabilização do tráfego de veículos nas estradas rurais. O orçamento necessário para conter o problema não estava previsto, e teve de ser realocado de outros setores para que os reparos fossem possibilitados. À primeira vista, o motivo parece ser até plausível, principalmente quando considerado os níveis pluviais inusitados enfrentados em janeiro, porém, sendo um evento cultural de grande porte esperava-se um maior planejamento financeiro para que o seu funcionamento não fosse comprometido por imprevistos assim. O que parece é que não há verba e esforços focados nas diversas festividades promovidas durante o ano todo, o que força a contínuas curvas de gastos continuarem acontecendo para que tais tipicidades ocorram.
A Secretaria de Cultura pode parecer mais pífia em relação a outras mais importantes e chega até a ser dispensável em outras cidades do mesmo âmbito populacional que Tibagi, mas ao considerar o tamanho da força e impacto que o seu Carnaval sempre teve em toda a região dos Campos Gerais, chega a ser impressionante não haver tal preocupação com um evento tão primordial em seu imaginário. Leis que promovem o incentivo cultural nacionalmente existem há anos, e mesmo com os pesares, têm funcionado para aumentar o volume de festividades ao redor do país, o que poderia servir como uma solução.
Imprevistos acontecem e surpreendem qualquer gestão, mas tendo em vista a importância regional e principalmente municipal que é o Carnaval de Tibagi, é inadmissível que cancelamentos como esse continuem ocorrendo por uma falta de preparo e resguardo financeiro que poderia ser evitado caso houvesse uma simples divisão com seus esforços focados em realizar tais eventos que só têm a agregar ao município com cada vez mais renome e visitantes anuais para prestigiar o que poderia vir a ser uma festa de calibre ainda maior.