Por Cultura Plural
Por: Lorena Rocha
“Por que eu digo que jornalismo se escreve com seis letras, paixão? Porque quem não é apaixonado vai ser bancário, astronauta, jogador de futebol… Admiro e respeito todas as profissões, menos um jornalista que não é apaixonado, precisa ter paixão”.
A frase de Nilson Monteiro, escritor e jornalista há 53 anos, sintetiza o espírito de sua trajetória. O autor, que sonhava em escrever uma autobiografia, agora tem a identidade com a profissão jornalística registrada em Jornalismo se Escreve com Seis Letras: Paixão, obra que reúne, além de memórias, entrevistas e reportagens que marcam mais de meio século dedicado ao jornalismo.
O lançamento aconteceu na última quarta-feira (13), no Auditório do Setor de Ciências Sociais, no Campus Central da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O evento contou com a presença de docentes e discentes na palestra do autor, em que revisitou momentos marcantes de sua vida pessoal e profissional entrelaçados na obra que é dividida em duas fases: uma voltada à própria vida profissional e a outra dedicada ao Brasil. Entre os textos que atravessam décadas estão reportagens que representam a situação econômica, política e a sociedade brasileira, que refletem tanto a coletividade quanto às transformações pessoais do escritor.
Nilson Monteiro, em bate-papo com o público, revisita com emoção sua infância em Campinas. Recorda a carta escrita para a mãe aos 7 anos de idade, hoje emoldurada em sua casa, como o primeiro gesto de interesse pela escrita. Entre os sonhos de criança, passou pela idealização de ser açougueiro, profissão que enxergava como poesia, e depois, tentou se tornar jogador de futebol, até que, aos 19 anos, encontrou na área da comunicação seu verdadeiro caminho.
A descoberta aconteceu em Londrina, quando um amigo o convidou para fazer parte da redação do Novo Jornal, formado por apenas quatro pessoas. Segundo Nilson, foi nesse cenário que aprendeu lições que carrega até hoje. Entre as primeiras pautas trabalhadas, recorda-se sobre a cobertura da descrença popular em relação à chegada do homem à Lua. “Não interessava a profissão da pessoa, a pergunta era uma só: você acredita que o homem foi para a Lua? De 26 pessoas uma só acreditava. (…) Uma matéria que está no livro se chama O homem na lua: a criação e é por isso que estou falando dela, pois começa aqui minha vida profissional”, relembra.
Quando se mudou para Londrina e se tornou um universitário, o jornalista fez parte do movimento estudantil contra a ditadura militar de 1964 a partir do Jornal Poeira. Ele explica que o jornal surgiu após a derrota de sua chapa na Universidade Estadual de Londrina (UEL), e quando se uniram para debater sobre a situação, uma colega declarou: “levanta, sacode a poeira e vamos dar a volta por cima”. A revista Terra Roxa do grupo de estudos da universidade, tornava-se o Jornal Poeira, destacando-se na luta e resistência e consagrando-se como um dos 25 jornais alternativos do país naquela época.
Nilson também atuou na Folha de Londrina, período que define como a fase mais profícua como repórter e redator. A capa do livro traz uma foto dessa época e remete a marcos para sua carreira. “Em Londrina eu fiz tudo, namorei, casei, separei, casei de novo, tive filhos, estudei, virei jornalista, participei de movimento estudantil e sofri muito com isso” , descreve, referindo-se à época mais maravilhosa de sua vida.
Posteriormente, entre os veículos da imprensa paranaense, Nilson Monteiro trabalhou no Jornal Panorama, Nicolau e o Estado do Paraná, entre outros. Como parte da imprensa nacional, atuou na Gazeta Mercantil, onde foi chefe de redação por nove anos, no jornal O Estado de S. Paulo, no alternativo Movimento, na Revista IstoÉ, entre outros. Também fez parte de emissoras de rádio e TV como a TV Tropical e a TV Paranaense e atuou em assessorias de imprensa. Em sua história no jornalismo existem nomes importantes que já foram matéria de seus trabalhos como Elis Regina e Milton Nascimento.
Como escritor, publicou 19 livros. Entre eles, destacam-se os livros de romance Mugido de Trem e Lasca de Costela, os de crônicas Curitiba vista por um pé vermelho, Pequena Casa de Jornal, A cidade e seus cúmplices e Retalhos na Pandemia e os de poesia Simples e Nem tão simples. No campo da história, também produziu Livro aberto: a história da Biblioteca Pública do Paraná.
O lançamento do livro Jornalismo se Escreve com Seis Letras: Paixão também integrou a programação da 44ª Semana Literária do Sesc PR, na quinta-feira (14). Mais que uma coletânea, a obra testemunha que, para Nilson Monteiro, o jornalismo é um sinônimo de uma paixão desenvolvida ao longo da vida. “Essa é a minha profissão, é a profissão de vocês, acreditem nela, lutem se for necessário, mudem mas não mudem de alma”, conclui.
Ao palestrar e revisitar sua carreira jornalística, Nilson destaca que, em cinco décadas, nunca ficou desempregado e sempre se manteve firme diante da desvalorização da profissão, recusando cargos abaixo da base salarial. Ele considera que um jornalista não prevê, mas desenvolve instinto, algo que nasceria da paixão e da obrigação de compreender as circunstâncias do mundo. Também destaca sobre a necessidade do respeito mútuo e a importância da humildade: reconhecer que não sabemos de tudo, admitir os erros e assumir as escolhas diante das dificuldades que marcam a trajetória da área do jornalismo.