Por Cultura Plural
Por: Lorena Rocha
No espetáculo de palhaçaria Paspalhices, os palhaços Madaleno, Tiburcia e Piccola não apresentam apenas cores, música, carisma e diversão no palco; oferecem um lembrete sensível, com olhar apurado: em tempos em que a violência parece normalizada, não podemos esquecer da compaixão em nossos próprios corações.
Na tarde de sábado (04), mais do que gargalhadas, a Tao Produções levou ao público presente no Sesc Estação Saudade um convite à reflexão. O ambiente foi transformado pela atuação teatral, um cenário de conexão e improviso marcado por diálogo entre artistas e plateia – quem assistiu pôde participar com papéis improvisados, cenas inusitadas surgiam como críticas bem-humoradas. Um verdadeiro “pingue-pongue” criativo, que abriu passagem para a imaginação e a sensibilidade de crianças e adultos.
Os palhaços enfrentaram o desafio inicial de se encontrarem para conduzir a cena e, juntos, reaprenderem a contar histórias. Os personagens abriram com a reflexão de que, num mundo em que a violência é banalizada e o tempo transformado em mercadoria, a compaixão e os “finais felizes” parecem ter desaparecido.
A história, protagonizada de forma descontraída pelos artistas da ONG Doutores Palhaços SOS Alegria, acompanha a trajetória de Tiburcia (interpretada por Micheli Vaz), que precisa redescobrir no seu próprio interior a compaixão. Ao intervir nos desfechos de contos infantis clássicos, Tiburcia transformava-os em versões com finais trágicos, repletas da fala repetitiva da personagem: “sangue, sangue, sangue”. A personagem, com apoio de Madaleno (interpretado por Bruno Madalozo) e Piccola (Abda Vaz), junto da plateia diversa, repensa sobre a violência não ser um desfecho e nem uma solução: a generosidade e a empatia seriam o caminho mais recompensador para a vida.
A tomada de consciência ocorre durante o apoio sonoro e musical de Piccola e a encenação da contação de histórias de Madaleno com o conto “Chapéuzinho Vermelho”. Cada cena propõe um desfecho amigável, em contraste com a visão de mundo extremada de Tiburcia. Ao final, ela se dá conta que a violência não deve ser naturalizada, e que as histórias merecem ser contadas com empatia.
A treinadora Bruna Lemes, ligada à ONG Doutores Palhaços SOS Alegria, foi convidada a participar de modo improvisado na atuação. Ela destaca a importância de prestigiar a cultura. “É um trabalho extremamente necessário para a humanização. O contato com a arte nos momentos mais sensíveis do ser humano é um trabalho crucial e bonito para a cidade”, ressalta.
Nos momentos finais, os artistas lembraram que o teatro, como arte e cultura, transforma vidas, oferece significados, representações da beleza, sentimentos e das adversidades da sociedade. “O teatro conecta uma alma humana com a outra alma humana, e isso permite um grande encontro de ‘eus’ nessa sala. Não deixem nunca de ir ao teatro”, reforça Bruno Madalozo.
Um dos tópicos também destacados, foi a atuação da ONG Doutores Palhaços SOS Alegria na cidade. Grupo criado em 2008 em Ponta Grossa por Bruno Madalozo e Micheli Vaz, que realizam visitas semanais em hospitais da região, promovendo intervenções artísticas que humanizam o ambiente de saúde. Em novembro, no dia 16, a ONG realizará um espetáculo no Teatro Marista, reunindo um elenco ampliado para celebrar a arte da palhaçaria e a força da compaixão.