Por Cultura Plural
So close to what (2025) atingiu número um na parada Billboard 200 dos EUA
Por Yasmin Aguilera
Tate Rosner McRae, dona dos sucessos Greedy e You broke me first, voltou com tudo após um ano sem álbuns novos. Sua trajetória musical iniciou aos 14 anos, quando começou a compor e lançar algumas de suas músicas no YouTube. Como sua carreira começou cedo, Tate afirmou nunca ter parado para de fato refletir sobre as consequências da mídia em cima a todo momento. No entanto, durante a turnê Think later (2023), quando começou a escrever novas faixas, “foi realmente um olhar intenso sobre fazer 21 anos e estar no meu corpo como mulher pela primeira vez, sentindo as repercussões disso, meu relacionamento com a mídia, passando por desgosto e me apaixonando novamente. So close to what reflete a ordem do amor, intercalando entre amor próprio, possessivo, tóxico e saudável.
Miss possessive é a primeira versão do amor mostrada no álbum, a possessão, o medo e a insegurança por trás do ciúme. “Eu sou muito generosa, mas me esqueci disso essa noite” e “estou te avisando, você não viu aquele meu lado que aparece às uma da manhã” representam a dualidade da cantora com a ideia de que ela costuma ser agradável e compreensiva, mas existe um limite. Quando se sente ameaçada, pode se tornar imprevisível e agressiva. Revolving door, segunda faixa, é a personificação complexa de relacionamentos abusivos. A música reflete sobre estar sempre caindo no mesmo ciclo em que já esteve antes. “Digo que estou bem, mas talvez esteja me enganando, basta uma ligação e isso responde qualquer dúvida”, registra a luta entre o lógico e o emocional. A dor em deixar algo que, mesmo que a machuque mais do que a ajude, já se tornou confortável.
Bloodonmyhands – ft FloMilli retrata a superação e o empoderamento após um relacionamento conturbado. “Sangue em minhas mãos” é um trecho que se repete com frequência e tem como significado a possibilidade das consequências de um amor que deu errado. A música joga um balde de água fria em seu antigo e fracassado amor, mostrando o quão rápido as situações podem se inverter. Dear God é a súplica de redenção mais sincera. “Querido Deus, me ajude a apagar o beijo dele do meu cérebro” realça que, sim, Tate está seguindo em frente, mas às vezes se pega pensando no fantasma do seu ex-parceiro e isso a incomoda muito. Conforme a música se desenvolve, é possível notar o peso dos beats a cada minuto, como se todo aquele amor a castigasse e fosse sua assombração.
A faixa Purple lace bra é um exemplo da relação de Tate com os “flashes”, que se revelou perturbadora. A letra explora a vontade da artista em ser ouvida e compreendida por alguém que parece só a escutar quando está se expressando de maneira sensual. “É, eu sei que você me olha, mas não me enxerga” e “você só me ouve quando estou pelada” são trechos que reafirmam a sua frustração e a ideia de que suas emoções sempre passaram despercebidas em um mundo em que sua aparência sempre valerá mais do que sua personalidade. Sports car é interpretado por “Tatiana”, o alter ego de Tate. Ao contrário de Purple lace bra, essa faixa demonstra poder, liberdade e desejo ao estilo Britney Spears dos anos 2000.
Signs é um desabafo sobre a dificuldade em ser interpretada por seu parceiro e o desejo de que ele a entenda sem que a mesma precise explicar. “Se eu disser que preciso de espaço significa: não olhe para a porta” e “eu te odeio significa: preciso mais de você”, salientam a necessidade de compreensão, em que nem tudo que é dito é realmente o que se sente. I know love – ft The Kid Laroi define a intensidade do amor e o compara com o uso de drogas. Uma das reflexões da letra é sobre baixar a guarda e simplesmente se permitir sentir. Like I do transparece a frustração ao notar que alguém que supostamente seria sua amiga, na verdade, só quer ser como você. “Sei que você está torcendo pela minha queda, não confio em você, de jeito nenhum” e “você diz que quer me conhecer, você não quer me conhecer, só quer fazer o que eu faço”, manifestam não só seu desapontamento em relação a amizade, mas também a confusão entre a rivalidade e admiração.
It’s ok I’m ok é quando a cantora finalmente supera os parceiros passados, mas vê e interpreta como irônico quando novos homens chegam em sua vida, crendo que tudo é lindo e feliz, assim como um dia ela achou. “Ela ficava tipo: ele é tão perfeito e eu fico tipo: ah é? Qual versão?”. No I’m not in love é como uma continuação de seu feat com The Kid Laroi. Tate, após passar por tantas variantes do amor, não quer acreditar que está se apaixonando justamente por um relacionamento que ainda é indefinido. Durante a música, é perceptível a luta do que ela quer sentir com o que ela de fato sente. Means I care é a prova de que, agora, existe uma barreira. A cantora se expôs tanto a sentimentos que não foram valorizados que agora só consegue se proteger e se afastar, mesmo que ame a pessoa. “Se eu te afastar, quer dizer que eu te quero”.
Greenlight machuca qualquer um que leia a tradução. “Não consigo apagar da mente as coisas que me disseram; acho que nunca me curei direito”. Desta vez, ela assume que não pode mais fingir que consegue se abrir a relacionamentos e simplesmente sabe que está cansada e ferida de amar. 2 hands é uma carta aberta à paixão e sua necessidade de toque físico vindo da pessoa amada. “Eu não preciso que você diga que me ama 17 vezes ao dia” e “só quero suas duas mãos em mim o tempo todo” transcrevem que mesmo que haja tanta superficialidade em relacionamentos, é seu toque que a faz sentir as borboletas no estômago. A faixa traz, além da paixão, a sensualidade. Nostalgia é a última faixa do álbum e entrega dor com seu fundo acústico e voz embargada. A letra insinua que após tanto segurar seus sentimentos aos outros, ela finalmente sofre as consequências disso. Tate tinha alguém que a amava ao seu lado, mas por medo de ser deixada novamente, decidiu partir primeiro. Só depois percebeu o erro que cometeu e viu que já não tinha mais volta. Lutou tanto para se proteger, mas no fim foi sua auto proteção que a machucou. “E eu, eu soube que você iria embora, então no dia em que você partiu, eu já tinha partido primeiro, três passos à frente de tudo”.
Quando se escuta So close to what sem se deparar com a letra, pouco se entende a profundidade das músicas. Esse álbum é sobre se perder na dor e tentar constantemente se encontrar novamente. Questionamentos como “o que eu estou fazendo?”,“o que eu de fato sou?”,“como vou me permitir amar se posso passar por tudo aquilo novamente?” são os pilares das faixas. A dualidade entre “okay, me sinto bem” e “meu Deus, como cheguei aqui?”, reverbera a todo momento. Tate McRae conseguiu se expressar de maneira tão excepcional que facilmente consegue tornar suas músicas em um experimento universal.