Confronto-me com a sina dos retornos
e mesmo numa manhã indivisível,
vejo o retorno das coisas a certos lugares.
E, conseguinte, se eleva a questão do retorno ao estado natural,
o retorno ao inorgânico,
retorno do que um dia não era
e que um dia não será mais.
O eterno retorno
estampado na serpente engolindo seu rabo,
na sina da morte,
na sina da vida,
dois medos e dois extremos,
caminhos circulares e precisos,
aos quais tento arduamente fugir,
pulsão de vida e de morte,
e aos quais me deparo diariamente.
Fiz-me médico por medo da morte?
Ou na tentativa de apego com a vida?
Nem toda manhã se apega nas paredes,
ou nos olhos,
porém essa especialmente quer se agarrar.
Tem ela também medo de morrer?
E os pensamentos retornam,
como retornam os pacientes,
às vezes sentados aguardando sua vez,
às vezes no anseio de existir,
às vezes exasperados como se fossem os únicos,
às vezes agradecidos pelo carinho dispensado,
e muitas vezes não retornam,
seja por não ter sido suficiente ou necessário,
às vezes ficam guardados a sete chaves
com os medos profundos.
Seria eu paciente da minha vida?
Conversas fora do consultório me fazem retornar
ao estado menos pueril, mais sisudo,
à burocracia dos cliques do mouse,
às filas, à espera,
ao personagem principal,
mas não esqueço nunca de retornar ao ser vivo,
ao ser revolucionário,
ao começo e ao fim,
a mim.