Por Joyce Clara e Iolanda Lima
Em uma casa numa esquina arborizada, no bairro Uvaranas, está localizado o Grupo de Auxílio aos ResGatinhos de Ponta Grossa (GAR). Com cinco gatis, o lugar abriga gatos que são resgatados, dando a eles todo o suporte necessário para que possam receber uma nova família. A primeira coisa que se vê ao entrar no lugar é uma parede cheia de fotos dos que já foram adotados, desde da Cereja até a Amy, 114 dos felinos foram acolhidos pelo carinho dos voluntários e agora têm um novo lar. O número, porém, é maior do que esse, alguns gatos foram recebidos e doados tão rápido que a foto ainda não chegou no mural.
A casa adaptada tem 10 cômodos, com fotos especificando quais gatos estão em cada gatil. Todos passaram pelo chamado enriquecimento do ambiente, ou seja, além das telas de proteção, itens de alimentação, água e higiene, o local possui arranhadores e postes para escalas, esconderijos e camas elevadas e brinquedos. Com montanhas de cobertores e almofadas, a casa é cheia de recados pelas paredes, quadros de gatinhos e brinquedos para os felinos. A garagem serve também como depósito de caixas de areia, potinhos de ração e água e almofadas.
O GAR funciona através de doações, apadrinhamentos e realização de bazares. Quem quer ter contato com os gatinhos, mas não tem condições de levar um para casa, pode apadrinhar. Funciona da seguinte forma: você visita o local e escolhe um ou mais bichanos, depois contribui com doações – seja em dinheiro ou com itens necessários – e, em troca, recebe fotos, vídeos e atualizações do seu gatinho, além de poder visitá-lo. A instituição também tem parceria com clínicas veterinárias, que frequentemente levam os profissionais ao local verificar como cada um está.
Com uma rotina regrada, cada voluntário tem tarefas para cumprir, dependendo do turno, como a limpeza de cada gatil, limpeza das caixas de areia, dar remédios aos gatinhos que precisam, alimentação e cuidados gerais. A organização segue por tabelas, considerando demandas e necessidades dos bichanos. A cozinha é exclusiva para os sachês, ração e medicamentos, até mesmo agulhas e seringas para emergências. A casa é recheada de avisos como “Não esqueça de tirar o lixo na segunda e terça” ou até mesmo lembrando de algum cuidado específico.
Karen Bucco é voluntária desde 2022, mas antes disso era madrinha do gatinho Billy com o GAR. Em um bazar que teve só para quem estava no programa de apadrinhamento, comentaram com ela que precisavam de mais voluntários, então ela se interessou. Em setembro ela adotou o Nescau, que tinha apadrinhado antes também. Hoje ela contribui com os cuidados gerais e conta que a instituição não recolhe todos os pedidos de ajuda, por conta da limitação de espaço dos animais. Karen conhece a história de praticamente todos os gatinhos do mural e os que estão no abrigo, e mostra o coração de uma gateira.
“O Senhor Nariz veio com uma família de frajolas, vieram em sete: ele, Olivia, Violeta, Rabicho, Rodolfa, Abacate e Cocada”, conta ela, apontando para as fotos. Enquanto mostrava outra foto, revelou que o gatinho que foi resgatado de uma acumuladora e ficou extremamente violento, após três anos vivendo no abrigo ficou menos arisco. “O Rafael começou a aceitar carinho, ele vem perto da gente, coloca a barriga pra cima, ele ficava amassando pãozinho, foi encantador”.
Animada com a lembrança que teve, ela ainda conta sobre o Félix. “Ele não tem um olho, e ele era muito bravo, ele atacava, hoje eu quase choro quando a mulher manda os vídeos dele, ela dança com ele no colo, um doce, ele só queria um lar”.
Seu Paulo, aposentado, é voluntário há seis meses e cuida da rotina de limpeza da casa na parte da manhã de quarta-feira. “Todo dia que eu acordo pra vir aqui no GAR eu acordo assobiando, porque é muito prazeroso vir aqui”, relata. Sobre ser voluntário, ele fala: “você ter uma atividade que não é remuneratória é muito bacana, a gente trabalha a vida inteira pra ter dinheiro e chega uma hora que você quer fazer algo diferente”.
Gatos, bichanos e felinos
Safira, Pretinho, Café, Titica e Expedito são alguns dos animais disponíveis para adoção atualmente no abrigo. Pra quem se interessa em virar pai ou mãe de cat, é importante listar algumas características que podem surgir. No começo a ideia de um gato em cima da cama, sofá ou até mesmo em cima da mesa pode parecer um absurdo. Com o tempo, e a cada miado dos bichinhos, eles vão conquistando espaço da casa e do seu coração. Daí, começar a falar com o animal com voz de bebê, comprar roupinhas, se sentir frustrado por que o bicho prefere uma caixa de papelão do que um arranhador caro, não leva muito tempo pra acontecer. A conexão emocional desenvolvida se torna parte crucial da sua vida, a percepção dos costumes e características específicas de cada bichano torna tudo uma relação mais especial. Todas essas especificidades de ter um gato em casa foram narradas pela Karen e por outros tantos donos de gatinhos.
Uma das pessoas que levou um bichano pra casa foi a Ellen Andrade, empresária, que há quatro anos decidiu adotar pelo GAR. Ela conta que a experiência com o abrigo foi bem tranquila e que sempre as dúvidas sobre os cuidados com o animal eram respondidas. “Acho bem importante a iniciativa, além de resgatar e cuidar dos bichinhos, virou um meio de adoção facilitado”, conta. Ellen ainda observa que as postagens frequentes do abrigo pelo Instagram facilitam e motivam a adoção.
“Ele me escolheu!”. A frase é de Lais Ventura sobre Paçoca, o primeiro gatinho que adotou pelo GAR, em dezembro de 2022. Ela conheceu a instituição após indicações, entrou em contato e foi atendida pela voluntária Rafaela “Achei o processo de adoção atencioso e responsável, fizeram perguntas se eu já conhecia gatos, sobre os cuidados, me passaram informações sobre os gatos”. Depois que levou Paçoca para casa ainda teve apoio dos voluntários e também teve um grande suporte da veterinária Aciane.
Um comentário muito comum da comunidade de amantes de gatos é “dessa cor eu não tenho”, isso surgiu porque, depois que você adota um gatinho (ou, mais importante ainda, é adotado por ele), você acaba adotando outro, e às vezes, mais um. Foi o que aconteceu com Laís, que em maio de 2023 adotou a Medusa. “Eu que não tinha experiência com gatos virei uma total gateira”.
Voluntariado e adoção
Para contribuir com o abrigo de forma voluntária é necessário preencher um formulário disponível na página do Instagram (@garpgoficial) e, em seguida, alguma das pessoas da instituição entram em contato. Para a adoção de um dos bichanos é necessário realizar uma entrevista com um dos voluntários para a possibilidade da adoção e depois fazer uma visita ao local para conhecer os gatinhos pessoalmente.