Por: Maria Cecília Mascarenhas e Emanuelle Pasqualotto
Os palcos do Cine Teatro Ópera receberam o grupo Jurubebas, de Manaus, na 52° edição do Festival Nacional de Teatro (Fenata), na última terça-feira (12). O espetáculo envolveu o público com uma apresentação que mostrava a situação do município na época da pandemia do Covid-19. Com classificação indicativa para maiores de 16 anos, a apresentação mostra o descaso com as vítimas que não tiveram acesso ao oxigênio.
A peça Desassossego trouxe ao palco um estilo teatral contemporâneo, com poesias, elementos sonoros, uma performance impactante e emocionante. A trama da peça se passa a partir da história de Maria, uma vítima do descaso governamental com os contaminados pela Covid-19, afinal, “quem tirou o ar de Maria?”.
Felipe Maya Jatobá, diretor da peça, ressalta a experiência que teve ao ver sua mãe como uma das milhares de pessoas que ficaram sem conseguir respirar, após muitos meses internada e sem oxigênio. “Maria é a representação das pessoas que passaram pela pandemia sofrendo com o descaso de não conseguir respirar”, explica.
Após passar horas na fila do hospital para conseguir um cilindro de oxigênio para a mãe, Felipe percebe que seu lugar no mundo é transformar a dor em arte e, após o ocorrido com milhares de pessoas no município, o diretor decide expressar seu sentimento por meio do teatro. “Eu tinha duas possibilidades, ou eu sofria internamente com aquilo ou eu eternizava esse contexto”.
Estrelada pelos atores Leandro Paz, Robert Moura e a atriz Nicka, Desassossego aborda também a situação da população indigena, das pessoas transgênero e de pessoas em situação de vulnerabilidade financeira durante o período de confinamento. “Conseguimos pensar que não representamos todas através desse trabalho, mas partimos de um contexto pandêmico onde nós passamos por coisas muito similares”, observa a atriz Nicka em relação à representação da comunidade de mulheres transexuais.
O ator Leandro Paz é indígena do grupo Kokama, diretamente da Amazônia, e uma de suas falas é no idioma Kokama. Essa parte não é traduzida durante a apresentação. Leandro explica que sempre, após a peça, as pessoas perguntam o que a frase significa. “Ao mesmo tempo que eu quero que as pessoas saibam, por ter um significado, também não acho que seja interessante entender exatamente o que está sendo dito, pois quero passar esse sentimento para o meu povo”, ressalta Leandro. “Você não precisa necessariamente entender o que está sendo falado para entender o que está sendo dito”, acrescenta.
A mensagem transmitida pela peça foi bem recebida pelo público. “Eu acho que é um tema muito importante para que a gente não desvalorize até mesmo as coisas ruins que aconteceram, para que nós possamos olhar para elas e nos auxiliar em coisas que virão pela frente”, relata a espectadora Marcia Regina Wansovicz.