Rodolfo Martins Kravutschke
Texto produzido para comemorar a união dos meus amigos Kevin Kossar Furtado e Ana Luiza Stoco.
Acho que devo começar pelo começo. Por mais redundante e óbvio que pareça, essa história não começa aqui ou agora, essa história começa no nascimento dos dois. Eu entendo, isso pode fazer muito pouco sentido por fazer até sentido demais, mas chegaremos lá.
Quando nascemos, somos apenas pequenos seres desamparados e lançados ao mundo, incapazes de nos manter, de nos alimentar e de sobreviver sozinhos. Por isso, somos totalmente dependentes do amor de outra pessoa, a qual geralmente chamamos de mãe. Então, somos seres feitos para o amor e feitos para receber amor para podermos sobreviver. Só com esse amor recebemos o carinho necessário, o alimento, o calor, a proteção e tudo que como bebês precisamos para atravessar a infância e nos tornarmos sustentáveis.
Nessa linha, carregamos eternamente essa necessidade do amor, de amarmos e sermos amados. Aprendemos logo cedo, a partir desse amor materno, sobre o autoamor ou amor próprio, também conhecido como autoestima, quando somos queridos pelo outro. Aprendemos a reconhecer nossas grandezas e já aí nascem algumas dificuldades desse amor próprio, de como tê-lo e como valorizá-lo, e muitas e muitas vezes desaprendemos isso, ou temos dificuldade de reconhecer, trazendo cobrança, punição e infelicidade.
Passamos a vida toda nessa incessante busca, tentando equilibrar pratos, buscando amar, receber amor e se amar. Começamos pelo amor da mãe, esticamos para a família, tempos depois reconhecemos nos amigos e enfim o amor romântico, o qual nos faz sentir aquelas típicas palpitações, aquele desconforto gástrico, aquela falta de fome…
E é nessa busca pelo amor do outro que podemos perceber nossas falhas, pois é aí que o amor se torna realmente forte, quando percebemos que aquela pessoa a qual não temos relação de sangue, não tem nenhuma obrigatoriedade e que vai descobrindo nossas falhas e erros, vai, mesmo assim, nos amando, colocando muitas vezes alguns curativos nas feridas que doíam muito.
Então, se é nas nossas falhas que percebemos o amor do outro, por que ainda tentamos tanto encobrir quem realmente somos? Quem somos por dentro, no íntimo, dentro do pensamento? Porque mesmo ali vive nossa insegurança, nosso inconsciente, o que temos repulsa, vergonha, e muitas vezes privamos o outro de nos conhecer mais e assim nos amar mais. Não falta também a nós amarmos um pouco nossas falhas?
E ainda temos a velha máxima das tampas de panela, das metades da laranja. Isso remonta à Grécia Antiga, em um livro de Platão chamado O banquete, em que em uma passagem ele relata um mito dito por Aristófanes. Nesse mito, ele diz que nós humanos nascemos inicialmente duplicados, com quatro braços, quatro pernas, duas cabeças, e que vivíamos em muita plenitude, o que causava certa insolência e botava a prova o poder dos deuses. Devido isso, Zeus separou esses humanos primitivos em dois, separando assim as duas metades, as duas almas gêmeas e as espalhou por toda a Terra. Sendo assim, os seres humanos passaram a experienciar uma falta, uma saudade inexplicada, até encontrar essa outra metade que lhes falta.
Essa história mostra muito bem nossa busca romântica, a busca pela completude, pela parte que faltava, pelo carinho que não se teve, pela segurança que não havia, pelo apoio que antes era titubeante. E ao encontrar essa suposta metade, com o que nos deparamos? Que essa falta se torna ainda maior, pois ela se soma à falta que a outra pessoa nos faz.
Digo tudo isso, pois compreendo que não podemos encontrar no outro o que nos falta, apenas em nós mesmos. Podemos encontrar no outro companheirismo, sorrisos, beijos e abraços. Podemos encontrar e nos doar, pois como disse o Fernando Anitelli, os opostos se distraem e os dispostos se atraem.
Amo vocês.