Por Joyce Clara
Misturando vivências, memórias familiares e tendo Carolina Maria de Jesus como inspiração, ‘Carolinas – É tempo de se aquilombar’ é um espetáculo teatral escrito, dirigido e interpretado pela atriz e dramaturga Ligiane Ferreira. A peça foi encenada na última quinta-feira (06) na Universidade Estadual de Ponta Grossa e estão previstas outras apresentações no mês de junho.
Preta, favelada, mulher, mãe
O monólogo leva o público a refletir sobre a condição da população negra do Brasil, a partir de relações entre passado e presente. “Mãe, você consegue uma escola para mim?”. Ao contar a história de Carolina Maria de Jesus, Ligiane mostra que a dificuldade de negros em seguir nos estudos não se limita à infância da escritora, mas algo que ainda faz parte do contexto sociopolítico do país.
A mãe da autora de “Quarto de Despejo” teve dificuldades para manter a filha nos estudos. “Ela ficava sedenta com cada palavra que aprendia”. Dificuldade essa que marcou Carolina com seus próprios filhos e que se estende às famílias atuais.
O acesso à educação é só uma das faces que a atriz utiliza para denunciar o racismo. Em um momento da peça, manchetes com notícias desde Ponta Grossa até o Caso Miguel, em Recife, demonstram os ataques diários ao povo negro.
Seu Wilson e o Quilombo Sutil
O monólogo de Ligiane é também uma homenagem ao seu pai, e dessa forma exalta suas origens e identidade. “Eu sou do povo Sutil, eu sou filha de um quilombola” expressa durante o espetáculo. Ela conta parte da história de Seu Wilson e evidencia como o racismo atravessou sua vida, principalmente quando precisou sair do quilombo para buscar mais oportunidades na cidade. “Pediram para ele cortar o black, porque pai de família não podia ter um black; meu pai passou por um processo de embranquecimento”, relembra Ligiane.
Por fim, ela denuncia a situação atual do Quilombo Sutil. O Sutil é um dos 37 quilombos registrados no Paraná, localizado na região dos Campos Gerais. O acesso é feito na estrada que vai no sentido Ponta Grossa para Palmeiras, na PR 151.
A peça é íntima e emocionante, e possui uma equipe majoritariamente composta por mulheres negras. O projeto é realizado pelo Coletivo Fiandeiras e conta com apoio via Lei de Incentivo à Cultura Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura, pela Secretaria de Cultura de Ponta Grossa.
Com entrada gratuita, Ligiane apresentará o espetáculo ‘Carolinas – É tempo de se aquilombar’ no SESC Estação Saudade, no próximo dia 28, às 19h30.
Ficha técnica
Ligiane Ferreira: dramaturgia/atriz/diretora
Indianara Santos: Coordenação de Logística
Fernanda Burgath: Produção
Tinta Preta: Assistente de produção
Sebastião Natalio: Assessoria de Imprensa
Jane Aransiola: Assessoria de Comunicação
Quiara Camargo: Assessoria de Comunicação
Alice Eulália Lima: Assessoria de Acessibilidade
Ivana Prado Lima: Intérprete de Libras
Alessandra Liz Ferreira: direção artística de intérprete de Libras
Tobias Novanski: Logística
Fora da Casa: Fotografia
Pamela Rodrigues: Identidade Visual
Karine Bruna do Prado Andrejeski: Capacitação da equipe/Libras