Por Joyce Clara, Natalia Almeida, Marina Ranzani, Gabriel Aparecido, Larissa Oliveira e Vinicius Orza
O Festival Gralha Azul Vivências Literárias estreou na tarde de ontem (07), no Sesc Estação Saudade. Com a participação de autores e ilustradores paranaenses, o primeiro dia de evento trouxe palestras, oficinas, rodas de conversa e atividades interativas.
Após a abertura com a palestra “Ler é bom…Para quê? Para quem?”, da professora Suelen Trevizan, o público recebeu Regiane Kusman, Gabriel Zaninelli, Joeli Gelinski e Mar Carlins.
O evento contou com três rodas de conversa, que reuniram autores e ilustradores das obras presentes na biblioteca virtual do projeto Gralha Azul. Mediadores conversaram com os participantes e fizeram perguntas relacionadas ao processo de criação das obras, no âmbito da escrita e arte. O público também participou com perguntas e cada debate durou cerca de uma hora.
A primeira sessão de mesa redonda foi composta pelas autoras Regiane Kusman e Joeli Gelinski, além dos ilustradores Gabriel Zanieli e Mar Carlins. Os quatro falaram sobre as obras que produziram e como se relacionam com elas pessoalmente. Mar e Gabriel revelaram que as ideias das ilustrações de suas obras (“Laranjas do mês de julho” e “Para Frente e Para Trás”, respectivamente) vieram a partir do trabalho com aquarela e lápis de cor, técnicas que remetem à própria infância. “Colocar sua própria vivência também faz parte da ilustração”, diz Carlins.
Já no ramo da escrita, Joeli explica que se inspirou na cultura paranaense para escrever a obra “Laranjas do mês de julho”, para que as crianças possam conhecer cada vez mais sobre a cultura do estado por meio da leitura. Regiane, autora do livro “O mistério na horta do texugo”, conta que sua primeira formação enquanto bióloga a cativou a escrever uma obra em que os personagens fossem animais. Ela observa ainda que o fator misterioso e lúdico do livro funciona como um modo de fazer o público leitor refletir sobre suas ações e como agir perante a sociedade.
A segunda segunda roda de conversa do dia contou com as autoras Ivonete Veraldo Gasparello e Doutora Cinthia Maria Baggio de Luca da Cunha, que escreveram, respectivamente, os livros “Dançando com as Dobrinhas” e “As Aventuras de Guto”. Os ilustradores Lucas Pessoa e Élio Chaves também estavam presentes no debate e colaboraram na discussão sobre detalhes da criação das obras, como personagens, enredo e ilustração.
A escritora da obra “Dançando com as Dobrinhas”, Ivonete Veraldo Gasparello, conta que sua família teve um papel fundamental na construção do livro. “Todos os personagens da minha história são inspirados na vida real. Isso facilitou o processo de escrita, pois todos os acontecimentos vinham de forma natural”, pontua a autora. A obra aborda os temas de bullying e obesidade.
Na terceira e última roda de conversa foram discutidos os livros “O Tapetinho Mágico de Kadu Sunshine” e “Em Busca da Lagoa Dourada”. Para o ilustrador Wagner Muniz, os livros infanto-juvenis precisam se comunicar com o público, por isso opta em tons mais coloridos, vívidos e quentes na confecção das artes, visando captar a atenção dos leitores mirins. ”A parte lúdica da história, que remete às brincadeiras e descobertas da infância, me inspiraram a produzir as artes de uma maneira que casasse bem com a ideia original do autor”, afirma.
A autora Catarina de Oliveira é ponta-grossense e carregou suas raízes para o livro “Em Busca da Lagoa Dourada” ao apostar na trama dos jovens Jorginho e Nina se aventurando pelas belezas e culturas típicas de Ponta Grossa. Victor Marques, ilustrador e também ponta-grossense, conta que sempre teve vontade de trabalhar com alguma obra que se passa na sua cidade. ‘’Pensei na história como uma viagem dos personagens, que exploram a cidade através de um mapa que atravessa os pontos turísticos clássicos da minha terra’’, diz.
Contação de histórias envolve crianças no Festival
Em paralelo aos debates sobre os livros lançados, também ocorriam as rodas de contação de histórias, que entreteram o público infanto-juvenil com a leitura das obras lançadas pela Biblioteca Gralha Azul. Música, fantoches, interpretações teatrais e diversas outras ferramentas foram usadas para inserir as crianças no mundo lúdico da imaginação.
O professor e escritor Alexandre Leocádio abriu a contação de histórias com o seu livro “O tapetinho mágico de Kadu Sunshine”, com ilustrações de Wagner Muniz. Leocádio utiliza a música para contar as histórias e afirma que sua intenção é criar um engajamento maior com as crianças, pois o momento de escuta para elas, e até mesmo para os adultos, tende a ser cansativo. A ideia de acrescentar elementos surge da necessidade de chamar a atenção das crianças. “A literatura não é apenas para ensinar e instruir, eu entendo que ela existe para criar um senso de liberdade, um senso crítico. E quando eu encontrei ferramentas para apresentar isso, os resultados que eu tive foram muito mais satisfatórios do que só a exposição oral’’, relata.
Alfredo Mourão, 71 anos, contou a história “As aventuras de Guto” da escritora Dra. Cinthia Maria Baggio de Lucca da Cunha, com ilustrações de Élio Chaves. Mourão iniciou sua carreira como contador de histórias em cima dos palcos, através do teatro, e futuramente transicionou para as rodas de leitura. Ele conta que o trabalho ocupa sua mente, preenche seu espírito e o mantém vivo. Alfredo ressalta a importância das histórias para todos, e não só para as crianças. “Todo mundo precisa de histórias, hoje em dia estamos muito conectados através das telas, mas quando olhamos nos olhos uns dos outros, a energia é outra. Enquanto eu falo, cada um imagina uma história diferente, e isso é muito importante para a construção da gente’’, afirma.
Palestra enfoca mercado da ilustração no cenário das redes sociais
Guilherme Bevilaqua, ou professor Laqua, foi quem encerrou a programação do primeiro dia de festival. O ilustrador e coordenador do Programa de Pós-Graduação de Ilustração Infantil Autoral realizou uma palestra sobre o mercado das ilustrações com dicas de como desenvolver a carreira, focando na identidade do artista e valorizando seu traço autoral.
“O grande trabalho do ilustrador é interpretar o texto”, observa Guilherme durante a palestra, ao evidenciar o caráter subjetivo existente nas práticas da escrita e da ilustração. Outro ponto destacado pelo professor é que ser um ilustrador nesse ramo permite o caráter autoral, o que significa que o profissional deve saber se posicionar estrategicamente para defender o seu trabalho e estilo.
Laqua ilustrou o livro infantil “Caçador de Borboletas”, de Diego Gianni, utilizando lápis de cor e aquarela, e também colaborou ao lado de Wagner Muniz, que foi seu aluno em 2007, na obra “O mistério do Pote Amarelo”, de Dione Navarro. Outros livros envolvidos no projeto, disponíveis na biblioteca virtual, também foram ilustrados por seus alunos.
O festival é uma realização da ABC Projetos Culturais e conta com apoio da Lei Rouanet e da Lei Municipal de Eventos e Geradores de Fluxo Turístico no município de Ponta Grossa.