Por Amanda Stafin
A indignação com um crime – o assassinato de um estudante – é um dos reflexos dos 60 anos do golpe militar de 1964. A luta no documentário “Calabouço, 1968: um tiro no coração do Brasil” é exemplo para a geração estudantil e marca profundamente aqueles que, em um ato pela democracia e por melhores condições de vida, buscavam defender seus direitos.
Em 28 de março de 1968, nos horrores da ditadura militar, o Restaurante Central dos Estudantes – conhecido como Calabouço – é invadido pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. Tiros são disparados e matam o estudante Edson Luis de Lima Souto. Há exatos 56 anos, o protesto de estudantes contra a má qualidade e a alta do preço da refeição no restaurante se tornaria símbolo para história do Brasil. O velório e enterro do jovem se transformaram em um ato político.
O documentário destaca o contexto brasileiro à época. O homicídio é o ponto de partida para grandes revoltas que marcaram a história do país: a “Passeata dos 100 mil” se tornou um símbolo de protestos contra a violência praticada pela polícia. Após quatro anos sob governo ditatorial, o país se une em uma primeira grande greve desde que os militares tomaram o poder.
Com direção de Carlos Pronzato e produção de Paulo Gomes, o documentário de 2014 revela a indignação e as feridas de uma sociedade. Entrevistas com sobreviventes, os traumas vividos pelos então acadêmicos, relatos comoventes das famílias das vítimas, fotografias, jornais e vídeos de arquivos retratam as lutas do movimento estudantil. O documentário foi apresentado no último dia 18, em uma mostra que integra a programação do V Ciclo Descomemorar Golpes, realizado no Curso de Jornalismo da UEPG.“Calabouço” é uma reflexão que atravessa o período de insatisfação com o regime militar até a redemocratização e manifestações no momento presente, quando a passagem do tempo e o silêncio tentam apagar as marcas da repressão. As lutas do passado inspiram a necessária busca pela liberdade.