Tem um moço passando na rua, ele para no meio da faixa de pedestre, com um celular na mão parece perdido
Um casal alegre de mãos dadas passa por ele, é um contraste, entre aquilo que é guiado e o que é sozinho
As duas estrelas ao sul me soam alheias, mais perto do solo como se em um mundo invertido
Há dez minutos atrás havia um carro branco na contramão, tão perdido quanto o menino
Por que subitamente nosso espaço conjunto ficou tão triste?
Me parece que ao adicionarmos às estrelas, veio com elas um limite
Carinho até eu dormir não é pedir demais, não precisa continuar amanhã
A não ser que tu queira me surpreender com um acorde às nove da manhã
Ainda assim me nota, tu toca que a nota mais forte é a mesma que tu corre?
Morde a boca, é dor, é raiva ou é saudade?
Difícil desvendar em meio ao seu silêncio, se isso é um: “me deixe” ou um “me socorre”
Vá em frente e sussurre esse tom covarde
O que me encanta eu não atendo
O que me alimenta eu não como
O que me disperça eu não me atento
Que falhar é permitir meu próprio roubo
É como se eu tivesse me acostumado a não merecer o que mereço
E que então, se não posso fugir, ao menos necessito pagar um preço
Passo a engolir o choro como a nuvem permite o vento
Assim, a culpa que eu não carrego pede por um intolerável aumento.