Por Juliane Goltz
Por Victor Gabriel, Vinicius Orza e Juliane Goltz
Na terça-feira, 2, a peça “Kintsugi, 100 memórias”, produzida pelo Lume Teatro, marcou presença no palco giratório do SESC Estação Saudade. Protagonizada por quatro atores, a proposta minimalista do espetáculo leva o espectador a uma viagem através da memória e da confusão no ato de lembrar.
O Lume, grupo da UNICAMP que estuda teatro, narra a história de um jantar de fim de ano, e a discussão que quase ocasionou o fim da companhia de arte. Através de diversas óticas e versões, a história se desenrola ao redor da memória fragmentada de cada ator que testemunhou o conflito na confraternização.
Kintsugi é a arte japonesa de consertar cerâmica com ouro, de maneira a ressaltar a beleza das imperfeições. No primeiro ato do espetáculo, um jarro de barro é quebrado e engatilha toda a reflexão acerca do passado, para que o pote seja consertado através da arte do kintsugi ao longo da peça.
Ainda no espírito do kintsugi, os atores trabalham suas inseguranças e traumas passados de maneira a reforçar a ideia de que as imperfeições e conflitos formam uma versão mais resistente de si mesmos.
O palco se torna uma exposição ao longo da memória na frente dos olhos do espectador | Foto: Juliane Goltz
O cenário minimalista no primeiro ato se transforma ao longo da peça. Orientados por uma série de objetos, músicas e anedotas, os personagens relembram suas histórias. Ao partir de seu objeto mais antigo e chegar em sua mais nova aquisição, cada um perpassa por traumas, inseguranças e relação com o teatro. Tudo culmina no processo caótico que simula a sensação de forçar a memória, entre indas e vindas, com obstáculos e distrações.
Com o auxílio de uma caderneta entregue na entrada, o espectador pode acompanhar um indíce de cada uma das 100 memórias utilizadas para tecer a história em 13 versões diferentes, influenciadas pelos itens adicionados no cenário. O que no início era uma discussão sobre ego e futuro do grupo de artistas numa simples janta, após ser narrada e relembrada diversas vezes, se torna um devaneio desordenado com espíritos e culpa do passado embrenhada na lembrança distante.
O maximalismo do cenário é fundamental no enredo da peça | Foto: Vinicius Orza
A peça faz parte do Palco Giratório, proposta do SESC que faz com que espetáculos teatrais de todo o Brasil se apresentem em diversos lugares do país. O Lume se apresentou em Bela Vista, Londrina e Curitiba. A apresentação foi gratuita, com os ingressos disponíveis para retirada na seção de convivência da Estação Saudade.