Por Manuela Roque e Joyce Clara
Calmaria (2021) é o mais recente lançamento da dupla de aristas ponta-grossenses Melissa Garabeli e Phellip Willian. O casal, autores da HQ Saudade (2018) e de diversas outras obras infantis, dá continuidade à trilogia Afeto com a história dos jovens Lia e Tan, que sob influência de uma forte chuva se encontram ao acaso e se conectam por intermédio do destino.
Na empolgação do primeiro amor, quais lições podem ser aprendidas? O que é preciso fazer, estar aberto a conhecer e abrir mão? Quais tempestades serão enfrentadas para se alcançar a “calmaria”? Em entrevista concedida ao Cultura Plural, os autores contam um pouco mais sobre sua nova história, os desafios trazidos com a produção durante a pandemia e curiosidades sobre o projeto.
Como iniciou a trajetória do casal com a literatura?
Phellip: Eu comecei a escrever com 11 anos de idade algumas histórias e pequenos poemas. A biblioteca sempre foi meu espaço favorito nas escolas que eu estudei. Com 16 anos eu comecei a investir na literatura com mais vontade, e durante a faculdade eu passei a escrever paralelamente à minha vida acadêmica e à minha vida como professor. Em 2011 nós começamos a namorar e no ano seguinte publicamos nosso primeiro quadrinho juntos pela internet, tinha apenas seis páginas, e desde então seguimos produzindo.
Melissa: Desde pequena meus pais liam muitos livros infantis para mim, e assim eu já comecei a gostar desse meio da literatura infantil. Quando fui crescendo eu comecei a gostar de desenhar, passei a fazer cursos e aprimorar minhas técnicas. Entrei na faculdade de Artes Visuais em 2011 e lá dentro eu descobri que existia o ramo de produção de livros infantis ilustrados, esse foi inclusive meu tema do TCC, e depois disso nós nos conhecemos e começamos nossa jornada produzindo livros juntos.
Como está sendo o processo de produção da trilogia Afeto, iniciada com a publicação de Saudade (2018) e continuada agora com Calmaria (2021)?
Phellip: Eu acredito que toda a trilogia aborda interesses pessoais nossos e a nossa tentativa de depositar o nosso afeto em cada uma delas. O Saudade fala da relação com animais, o Calmaria é muito inspirado na temática dos relacionamentos, e o terceiro volume vai abordar o nosso interesse e conexão com as narrativas. Então essa trilogia resume o que nós vamos fazer a vida toda: investigar as coisas que estão acontecendo ao nosso redor e transformá-las em histórias.
Qual é a principal narrativa abordada em Calmaria?
Phellip: O Calmaria é um retrato da nossa investigação sobre como a gente precisa se conhecer para funcionar como casal. Então o que desenvolvemos ao longo do livro é que para você ter um relacionamento com alguém, você precisa saber abrir mão de algumas coisas. E é por isso que é tão difícil de alcançar essa “calmaria”, porque parte de se estar em um relacionamento é saber enfrentar as tempestades que vem antes.
A trilogia Afeto é composta por títulos de uma palavra. Como ocorre a escolha desses títulos?
Melissa: No caso do Saudade, o título foi a primeira coisa que pensamos. A ideia original surgiu em 2013, mas ao longo do tempo fomos trabalhando a proposta, ela mudou de significado para nós, mas o título ficou. Já o Calmaria tem uma história mais turbulenta.
Phellip: Originalmente, o Calmaria se chamaria “No pé da montanha te fiz um carinho”, mas como trabalhamos com a perspectiva de trilogia, decidimos que todos os livros passariam a ter só uma palavra no título. E como mudamos o local do livro da montanha para o mar decidimos pensar melhor. O livro também se chamou por um momento “Tempestade”, mas já existia um quadrinho muito famoso com esse nome. No fim, apostamos mais na metáfora da calmaria para a construção de um relacionamento.
Quais foram as principais diferenças de produzir um livro durante a pandemia?
Melissa: O meu processo de criação das ilustrações sempre foi solitário, então nesse sentido a pandemia não me impactou tanto. O problema maior foi não poder sair de casa em nenhum momento. Mas, por outro lado, eu acabei desenhando mais rápido, o que agilizou o meu processo pessoal de produção. Com a pandemia as vendas no meu site também desaceleraram, a galera parou de consumir livro, que praticamente se tornou um artigo de luxo nesses tempos tão difíceis.
Phellip: O que dificultou bastante também foi a falta de evento para divulgar nosso trabalho, e onde a gente mais vende são nos eventos de quadrinhos. Então a gente não teve a renda que tínhamos antes, o que nos preocupou por um bom tempo.
Como é o processo de lançar um livro através de uma plataforma de financiamento coletivo?
Phellip: O que as pessoas não sabem é que o processo de criação de uma campanha de financiamento começa muito antes de você publicar ela online.Não é só esperar que as pessoas venham atrás dos seus livros, mas também criar uma base de leitores engajados pelo seu trabalho. Ir em eventos, lançar quadrinhos menores, conversar com as pessoas foram algumas das maneiras que a gente encontrou de conhecer quem poderia ser o nosso público.
Melissa: Mas não dá para negar que a gente também sofre um pouquinho durante a campanha em si, principalmente até atingir a meta. Tem dias que vão super bem os apoios, tem dias que ninguém apoia, então ficamos na incerteza até o final. Mas no fim, quando bate as metas, a gente respira mais aliviado e pensa “conseguimos, deu certo”.
Sobre as ilustrações, qual o processo para escolha das cores?
Melissa: Estudar a psicologia das cores é algo que ajuda muito na produção de um livro. Eu li muito sobre o assunto, e hoje em dia esse processo ocorre de forma natural quando estou ilustrando. As cores envolvem o leitor com a ilustração de uma forma mais profunda, que vai além dos traços. Por exemplo, no Saudade os tons terrosos trazem uma sensação de tristeza. Já no Calmaria as cores mais azuladas transmitem o sentimento que queríamos de paz.
Quais artistas são inspirações para o trabalho de vocês?
Phellip: Eu tenho muitas referências, que vão de clássicos a contemporâneos. Na literatura infantil, o autor Shel Silverstein é um nome que me inspira muito, assim como a Aline Bei, que escreve com quebra da sintaxe. Mais especificamente dos quadrinhos, alguns nomes importantes para mim são: Marcelo Salles, Vitor Cafaggi e o Quino.
Melissa: Para mim, o ilustrador Adilson Farias é muito inspirador, considero ele um mestre da aquarela. Outras referências que tenho para meu trabalho são os ilustradores Sidnei Meirelles e a Luciana Cafaggi.
De que forma vocês interagem com os leitores? E como esse retorno do público impacta na hora de produzir novas obras?
Melissa e Phellip: A maior parte do contato que temos com os leitores é pelas redes sociais, muitos nos mandam mensagens ou marcam em publicações. O site do Catarse também permite essa comunicação, através do e-mail. O retorno do público é muito importante para nós, as críticas positivas e negativas sempre são levadas em consideração.
Phellip: A arte sem público não é nada, a literatura acontece quando tem o mercado literário, o produtor, a editora, a livraria e o público, se tirar algum desses da equação não se tem literatura.
Como os interessados podem adquirir as obras de vocês, quando o financiamento coletivo pelo Catarse já estiver finalizado?
Melissa: Eu tenho um site pessoal, onde nossas produções ficam disponíveis para aquisição, que é https://www.melissagarabeli.com.br, e os interessados também podem fazer contato por nossas redes sociais: @melissa_garabeli e @phellipwillian no instagram.