Por Manuela Roque
Por Manuela Roque e Victor Gabriel
A quinquagésima edição do Festival Nacional de Teatro (Fenata) encerrou na noite do último domingo (13). Após uma semana respirando teatro em diversos locais da cidade, os ponta-grossenses lotaram o Cine Teatro Ópera para prestigiar os artistas convidados e descobrir quem foram os grandes vencedores da edição histórica do festival.
A noite iniciou com uma homenagem à equipe de produção do festival e aos artistas que integraram a programação, ovacionados pelo público. Em seguida, o Grupo de Teatro de Ponta Grossa, que realizou diversas intervenções artísticas ao longo da semana, esteve presente novamente na cerimônia de premiação, encenando a perda dos resultados do FENATA ao rasgarem o papel com os nomes dos campeões. Foi o diretor de assuntos Culturais da UEPG, Nelson Silva Junior, quem salvou a noite, com um envelope extra dos resultados.
Em seu discurso de agradecimento, Nelson enfatizou a importância da volta da plateia, após dois anos de pandemia, e também adiantou uma novidade para 2023: o retorno do Grupo de Teatro Universitário (GTU) da UEPG, responsável pela criação do Fenata nos anos de 1970. Segundo dados fornecidos pela organização do festival, a edição de número 50 totalizou 85 apresentações, com 26 grupos teatrais vindos de diversas partes do Brasil e 58 escolas e instituições inscritas para receber o Festival.
A premiação
O anúncio dos resultados da mostra competitiva de teatro do Fenata ocorreu de forma diferenciada em 2022: pela primeira vez, somente um dos artistas estava presente no palco. Os demais, que vieram a Ponta Grossa apenas para o festival, retornaram para suas cidades e acompanharam remotamente a premiação por meio de plataformas online.
Outra novidade trazida pela quinquagésima edição foi o troféu entregue aos vencedores, criado em sala de aula pelos acadêmicos do curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O estudante que assina a obra é Chaquelle Oneal Almeida, que a desenvolveu para a disciplina de Escultura, ministrada pelo professor Diego Divardim.
O grande vencedor da noite foi a Cia Beradeiro, levando para casa três estatuetas pelo espetáculo “Vereda da Salvação”. A companhia conquistou o prêmio principal da noite, de Melhor Espetáculo Adulto, além de Melhor Direção (Fabiano Amigucci e Fagner Rodrigues) e Melhor Atriz Coadjuvante (Beta Cunha). A companhia Teatro de Anônimo também foi reconhecida com três prêmios pelo espetáculo “O Cão Chupando Manga”: Melhor Ator, Melhor Texto Original (ambos para Fábio Freitas) e Melhor Iluminação (Guinga Ensa).
Já o Melhor Espetáculo Adulto escolhido pelo júri popular foi “Leões, Vodka e um Sapato 23”, da Companhia de 2. A companhia também foi premiada com o troféu de Melhor Figurino (Chris Galvan). A Melhor Cenografia foi para a Cia Talagadá, pelo espetáculo “Monstro e Cia”, e o prêmio de Melhor Maquiagem (Matheus Gonçalves) foi para a peça “Caravela da Ilusão”.
Por fim, o espetáculo “PaPeLê – Uma Aventura de Papel”, assinado pela Téspis Cia de Teatro, recebeu o prêmio de Melhor Espetáculo Infantil e Melhor Sonoplastia. “O Pequeno Príncipe”, primeiro espetáculo bilíngue do Fenata, em libras e português, foi contemplado com as estatuetas de Melhor Atriz (Catharine Moreira) e Melhor Ator Coadjuvante (Lucas dos Santos).
O festival também chamou ao palco para homenagear com troféus da premiação duas personalidades fundamentais para a história do Fenata: Daniel Frances, pela participação em inúmeras edições e por sua contribuição ao acervo do Fenata, e Francisco Acildo de Souza, o Chiquinho, pelos anos de trabalho nos bastidores do festival. O júri ainda concedeu ao Grupo Nômade um prêmio especial pela pesquisa realizada para a construção do espetáculo ‘A Caravana dos Pássaros Errantes’, apresentada na categoria Teatro de Rua do festival. A peça foi encenada na Praça Barão do Rio Branco.
O encerramento com “O Grande Circo Místico”
A última noite de FENATA encerrou com uma apresentação magistral do clássico “O Grande Circo Místico”. Encenada pelo grupo de artistas do Projeto Broadway, primeira escola de teatro musical do Paraná, a releitura de um dos espetáculos mais clássicos do teatro musical brasileiro encantou os espectadores do começo ao fim.
A peça foi criada pelo Balé Teatro Guaíra, de Curitiba, no ano de 1982, com base na obra “A Túnica Inconsútil” (1938) do poeta parnasiano Jorge de Lima. O responsável por adaptar a obra para um roteiro musical foi Naum Alves de Souza, além de contar com a produção de uma trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo, interpretadas por artistas como Milton Nascimento, Gal Costa, Simone, Zizi Possi, entre outros.
A estreia ocorreu em 17 de março de 1983 e o sucesso foi tamanho que o espetáculo saiu em turnê pelo país, totalizando mais de 200 mil espectadores e 200 apresentações. A produção que une música, dança, ópera, circo, teatro e literatura também ultrapassou fronteiras internacionais, tendo uma apresentação especial no Coliseu dos Recreios, na cidade de Lisboa, em Portugal.
O espetáculo conta a história de amor entre um aristocrata e uma acrobata, em paralelo às aventuras, conflitos e adversidades enfrentados por cinco gerações da família austríaca responsável pelo Grande Circo Knieps, um dos maiores picadeiros das primeiras décadas do século XX. Dottore, mestre de cerimônias e diretor da Cia de Commedia Dell’Arte (roteiro de Ricardo Bührer), é quem narra os causos da família Knieps para o público. Interpretado por Rodrigo Fornos, diretor artístico do Projeto Broadway, o artista destaca a importância da peça para a cultura brasileira. “O Grande Circo Místico é uma obra icônica na cultura do Brasil, então é uma honra para nós trazer remontagens dessa obra. É a quinta vez que eu a faço, e poder trazer uma obra tão potente musicalmente e teatralmente para o palco do Fenata com uma plateia grandiosa como esta é um prazer absurdo”, declara.
Juliana Caillot é ponta-grossense e integra o elenco de “O Grande Circo Místico” como a personagem Charlotte e como diretora coreográfica. Um dos momentos mais emocionantes da noite foi o pedido do diretor Rodrigo Fornos de uma salva de palmas para a avó da artista, que estava presente na plateia para ver pela primeira vez em sua vida a neta dançando nos palcos.
Para Juliana, voltar para sua cidade natal com um espetáculo tão emblemático é um momento de muita emoção e um marco em sua carreira: “Eu fui para Curitiba alguns anos atrás, mas Ponta Grossa vem sempre primeiro no meu coração. É muito especial estar de volta, literalmente em casa, podendo ter a minha família pertinho de mim e trazer para a minha cidade um pouco da magia do teatro musical”, diz.
Ao final do espetáculo, os artistas retornaram ao palco para agradecer o público e prestar homenagens à equipe de produção. Aplaudidos de pé por uma plateia lotada, o Projeto Broadway dedicou a apresentação do Fenata a Gal Costa, cantora brasileira e intérprete da canção “A história de Lily Braun”, presente no roteiro da apresentação, que faleceu no último dia 09 de novembro.
Rodrigo ainda enaltece a data comemorativa das 50 edições do Fenata e declara a importância do Festival para o teatro brasileiro: “Todo artista, por natureza, é resistente. E saber que esse festival tem 50 edições ininterruptas significa que é um festival de pura resistência”. Ele considera que a arte conta a história do ser humano, e estar no palco é contar uma história: “estar no palco do Fenata, portanto, é não somente contar uma história, mas também fazer parte de uma história, composta por figuras importantes das artes cênicas do Brasil. Para nós, é simplesmente uma honra”, finaliza.
Confira a galeria de Victor Gabriel da noite de encerramento: