O tombamento de imóveis é um dos principais elementos para a preservação da cultura de um local. De acordo com Johnny Willian Pinto, da Seção de Fiscalização e Tombamentos do Departamento de Patrimônio Cultural de Ponta Grossa, os últimos tombamentos em Ponta Grossa foram a Casa Biassio e o Castelinho, também conhecido por Vila Miraflores, em 2019, e a Villa Branda, em 2021. Os três imóveis marcaram a história e o desenvolvimento de Ponta Grossa, sendo residência de importantes atores sociais. Além disso, representam um estilo arquitetônico icônico para a época, que também relembra a descendência do povo ponta-grossense.
A preservação desses imóveis garante a manutenção da cultura da cidade, assim como o registro de uma história de quase 200 anos. Se, por outro lado, os processos de tombamentos são desrespeitados e ignorados pelo município, nada além de retrocesso e esquecimento permanecem. “Como gosto muito da minha história, da minha família e da minha cidade, fico muito feliz ao ver edificações que fizeram parte da minha infância”, opina Luiz Carlos Kloster, morador de Ponta Grossa. “Sem a menor sombra de dúvidas, a preservação é extremamente importante para os habitantes da nossa cidade e região, além da história da nossa cidade inteira”.
A Casa Biassio é um dos exemplos para a preservação da memória da cidade. O imóvel está localizado na Rua Padre João Lux, no centro de Ponta Grossa, uma região repleta de outros imóveis tombados e hoje sedia uma escola de idiomas. A construção do imóvel em estilo bangalô é datada do início do século XX e o material de construção veio quase que inteiramente da Inglaterra, representado pela bandeira do país no terraço.
Já o imóvel conhecido como Vila Miraflores, localizado na Rua Coronel Dulcídio, também na região central, foi construído por Fidêncio da Silveira, dono da primeira concessionária Ford em Ponta Grossa. O estilo da construção é eclético e segue o padrão das grandes vilas de antigamente. Sua imponência chamou a atenção da população e passou a ser chamado por muitos de Castelo, nome que ficou até hoje. Laurita Silveira Salomão é neta de Fidêncio e diz que o imóvel ficou nas mãos da família por alguns anos antes de ser uma das sedes de um banco. “Tenho muitas lembranças da minha infância e adolescência que passei lá”, afirma Laurita.
Mesmo em estado de abandono, a Vila Branda foi um dos últimos imóveis tombados. Também localizado no centro da cidade, mais precisamente na rua Sete de Setembro, o imóvel pertenceu à família Gasparetto. Os pais do empresário Ovídio Gasparetto, que faleceu no ano passado de Covid-19, foram responsáveis pela construção da casa na década de 1940. O imóvel possui arquitetura opulenta, retratando a ascensão social daquela região da cidade na época. Chamando a atenção do público pela grandeza, sua importância é histórica e arquitetônica. O tombamento do imóvel foi aprovado em uma sessão aberta ao público em agosto deste ano.
Caminhos do tombamento
O processo de tombamento pode ser realizado pelo Poder Público em esfera municipal, estadual ou federal a partir de uma legislação específica. Em Ponta Grossa, a lei 8.431/2005 é responsável por este processo e o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac), criado em 1999, presta serviço para a preservação da área cultural do município.
A primeira parte do processo conta com uma lista de imóveis produzida pelo Compac. Podem entrar na listagem pedidos de apelo popular ou solicitação do proprietário do imóvel. O segundo passo é a elaboração de um relatório técnico sobre o imóvel para análise de arquitetura, relevância e importância do imóvel para a cultura da cidade. Se o tombamento for decidido pelo Conselho, os donos são comunicados e têm 60 dias para entrar com a ação de retirada do imóvel da listagem. Dos três imóveis citados no texto, todos eles foram incluídos na listagem pelo apelo da população ponta-grossense.
De acordo com Kathleen Biassio, representante do Compac e integrante da Associação de Preservação do Patrimônio Cultural e Natural (APPAC), a cultura de uma cidade se estabelece a partir da materialidade de patrimônios materiais culturais, além das dinâmicas de transformação no espaço. “Os patrimônios culturais não são apenas objetos de pedra e cal, mas expressam a identidade e a história de uma cidade e agem como suportes da memória”, avalia a arquiteta. Kathleen afirma que os imóveis escolhidos para tombamento são aqueles que mais refletem memórias de uma sociedade, auxiliando na preservação da história local.