Por Manuela Roque
A Fundação Municipal de Cultura (FMC) divulgou, no dia 21 de maio, o resultado do edital emergencial “Em casa com Cultura”. A iniciativa, que está em sua segunda edição, premiou 70 artistas por suas produções culturais ao longo da pandemia com o benefício financeiro de 1.500 reais e 66 outros artistas por suas trajetórias no cenário cultural da cidade com o valor de 2.200 reais. No total, foram mais de quatrocentas inscrições nas duas categorias. O valor de 250 mil reais destinado à realização do edital vem do Fundo Municipal de Cultura.
Com o intuito de auxiliar os profissionais da cultura durante a pandemia, paralisados desde março do ano passado, a Fundação Municipal de Cultura criou a iniciativa de abrir um edital que fornecesse apoio financeiro e novas oportunidades de divulgação para o setor. Lucélia Clarindo, contadora de histórias e organizadora do projeto social “Bando da Leitura” foi uma das beneficiadas na primeira edição do edital, promovida em abril de 2020.
Premiada na categoria de Literatura voltada para as transmissões ao vivo, Lucélia explica que o valor do prêmio foi dividido para custear seus estudos na área cultural e a manutenção do espaço físico do projeto: “No ano passado fizemos novas estantes e pintura na sala de leitura do Bando e parte do pagamento foi para a continuidade da minha pós-graduação em Contação de Histórias em Curitiba. Porém, ainda não foi possível manter aberta a sala de leitura para o público devido à pandemia”, relata.
Em 2021, o edital sofreu mudanças. Para este ano, os inscritos poderiam escolher em qual categoria concorrer: Produção Cultural ou Trajetória. Na primeira categoria, destinada para produções específicas nas áreas de literatura, teatro, música, dança, circo, artes plásticas, artes populares e cine-foto-vídeo, os artistas ou grupos culturais concorreram com vídeos de até quinze minutos produzidos dentro de seu segmento durante a pandemia. Já na segunda categoria, o critério de base para a inscrição foi o conjunto da obra individual de artistas ou grupos culturais locais, comprovada por meio de portfólios ou vídeos em estilo narrativo.
A professora e bailarina Larissa Lemos foi uma das inscritas na categoria Trajetória do edital. Com mais de vinte anos de carreira, ela conta que esta é sua segunda experiência com editais culturais, visto que já foi contemplada pela Lei Aldir Blanc com sua escola de dança. Ela também relata que viver de arte durante a pandemia está sendo um dos maiores desafios de sua carreira: “A principal dificuldade, para nós que vivemos da arte, tem sido a baixa demanda de alunos. Esse desafio torna ainda mais desafiadora a produção artística, pois estamos com a energia criativa canalizada em engajar mais alunos, propostas de marketing, entre outros projetos, mas tudo está atrasado por conta da pandemia”.
Na visão da bailarina, a Fundação Municipal de Cultura deveria investir em mais editais que realizem a convergência entre diferentes áreas artísticas: “Curso de iluminação cênica e criação de cenários para iniciantes, curso de dança para atores, curso de canto para bailarinos, fazer um mix de cursos de áreas distintas para tornar nossos artistas cada vez mais versáteis”, sugere.
Além do edital “Em casa com cultura”, segue em tramitação na página da Fundação o edital “Ocupa Cultura”. Diferente do primeiro, este edital não beneficia financeiramente o artista, mas fornece gratuitamente unidades culturais da cidade como palco para transmissão de apresentações ao vivo. Segundo a Fundação Municipal de Cultura, o objetivo principal é abrir estes espaços fechados para o público pela pandemia – como é o caso do Teatro Ópera, Mansão Vila Hilda, Centro de Cultura, Conservatório de Música e Biblioteca Municipal – para que artistas e grupos culturais os utilizem e através das redes sociais possam divulgar e até monetizar seus trabalhos.
O edital tem como intuito fazer com que a produção cultural de Ponta Grossa continue viva e atuante, mesmo com medidas de isolamento e distanciamento social. A captação de recursos por meio das plataformas digitais é outro ponto de destaque: no vídeo da transmissão da apresentação poderá ser usado o QR Code com o PIX do artista ou grupo cultural que estiver apresentando, para que o espectador possa fazer transferências no valor que puder contribuir. O texto ainda ressalta que toda a parte de estrutura técnica será fornecida ao artista ou grupo pela própria Prefeitura, como mesa de som, microfones, iluminação e internet wi-fi. A transmissão do evento será feita pelo próprio artista, mas também ficará disponível nas redes sociais da Fundação.
Na visão de Lucélia, a realização de editais voltados para a área da cultura em Ponta Grossa é uma forma democrática de valorizar os artistas locais. “A Prefeitura precisa ouvir a classe artística como vem acontecendo, promover ações de modo a não só valorizar como também incentivar o artista a continuar produzindo arte em diversas linguagens e o público a apreciar a cultura local”, destaca. Para a contadora de histórias, o poder público deve cada vez mais explorar o recurso dos editais na área da cultura, através da recuperação de propostas anteriores e adaptação para o cenário atual: “É primordial que esse diálogo entre responsáveis pela Fundação e artistas, que tenho percebido, continue. Que a cultura pós-pandemia seja uma grande troca, um compartilhar bonito entre o povo das vilas e bairros. Um abraçar cultural em todos os sentidos e sentimentos”.