Por Nadine Sansana
Entrevista: Nadine Sansana
Edição: Jessica Grossi e Matheus Gaston
A entrevista com Julio Cesar Alves Pires foi realizada em abril de 2019 na Rádio CBN, em Ponta Grossa, pela estudante de graduação em Jornalismo, Nadine Bianca Sansana, como parte da sua pesquisa de iniciação científica.
Pires nasceu em 1956 e iniciou seus trabalhos como operador no rádio com 13 anos. Passou pela Rádio Central do Paraná e pela Rádio Vila Velha, hoje Sociedade Pitangui de Comunicação Ltda., a Rádio CBN. Seus relatos têm como base a década de 1970. Atualmente, Julio Cesar Alves Pires continua atuando como operador na Rádio CBN, em Ponta Grossa.
Poderia falar rapidamente da sua trajetória profissional, onde e quando começou a trabalhar? Quais eram as condições de trabalho? Quais eram as dificuldades com relação aos equipamentos?
A primeira vez que entrei no rádio em Ponta Grossa foi no ano de 1969, na Rádio Central do Paraná, que hoje é FM. Era em cima do Cine Ópera e o trabalho que eu fiz lá foi, primeiramente, a sonoplastia, e realmente era uma época muito difícil porque não tínhamos todos os equipamentos que nós temos hoje. Nós rodávamos os comerciais em acetato de alumínio, que de repente vocês não conhecem, mas o acetato de alumínio é o próprio disco, só que em alumínio. E o toca disco da época tinha um elástico, onde ele fazia as três rotações: o 33, o 45 e o 78. De repente, tu estavas lá com o locutor e ele chamava o comercial e você estava com o 33 e o comercial era em 78, porque o acetato de alumínio só rodava na rotação em 78. Dava aquele rolo você colocar o dedo e de repente enroscar no elástico e no motorzinho. Mas enfim, foi uma época muito boa. Na primeira vez que eu entrei dentro do rádio, gostei, fiquei e estou até hoje. Tenho mais ou menos quarenta ou quarenta e cinco anos dentro do rádio de Ponta Grossa.
Da Rádio Central do Paraná fui para a Rádio Vila Velha que hoje é a Sociedade Pitangui de Comunicação Ltda., onde estou há catorze anos, a Rádio CBN. Já existia a “kasseteira”, que rodava os comerciais e também músicas no ar. Pegava-se a fita K7, cortava-se trinta segundos, quarenta e cinco, até um minuto, cortava essas fitas, então o comercial ia no tempo correto dentro dessa fita K7. Então, rodava ela, ela terminava, voltava no ponto do começo e assim a gente fazia o comercial da época. Era a chamada “kasseteira”. Disso, nós passamos para o mini disk. Na época, já se tornou algo bem mais sofisticado dentro do rádio. Não só em Ponta Grossa, como também em todo o Brasil. O mini disk, um disquetezinho, é um disco dentro de uma capa, onde vai no mini disk e ali a gente grava faixa por faixa, como é gravado o CD atual. Como era também o lowplay, o disco de seis faixas lado A e seis faixas lado B, então o mini disk também faz a mesma função. Ainda tem algumas emissoras que têm ele guardado e também têm os disquetes. Essa foi uma fase bem mais fácil de trabalhar porque programava-se o comercial número 5, número 38, número 46, ou número 100, uma chamada no número 90 e aquilo rodava normalmente e o locutor também tirava um descanso enquanto estava rodando o comercial.
Antes da fase da kasseteira, nós trabalhávamos com o dek. O dek seria um gravador, só que com fita K7. Ele existiu de um tamanho, digamos, não tem uma metragem dele, nunca coloquei isso na cabeça. Mas uma metragem de 20 por 20, de 20 centímetros ou até menos, que cabia a fita K7. Você colocava ele no ombro, pra fazer reportagens de rua. Tinha também o gravador Akai, que é fita de rolo que nós usávamos muito na época, que era o gravador que a gente gravava o comercial, gravava as entrevistas e fazia as edições dentro desse aparelho que seria o gravador Akai ou quatro mil DX. Depois de tudo isso veio o computador. Essa facilidade que é hoje o computador, eu até brinco muitas vezes com os colegas mais antigos que a gente passou a ser meio preguiçoso, porque você programa, senta e deixa que ele rode. Embora essa máquina também, às vezes, dê problema, porque ela tem que ser manipulada pelo ser humano, senão ela não vai.
Da reportagem, por exemplo, de um K7, de um gravador de rolo, hoje você pega um telefone e grava direto no computador, onde já tem todo o aparato pra você, de repente, equalizar a voz da pessoa, mudar o tom de voz, você quer fazer como fazem muito na televisão, mudar. Então, a evolução de lá pra cá é muito grande. E a gente está aí cada vez progredindo mais, porque o rádio hoje, do AM para o FM, tem a facilidade de você pegar o programa e colocar dentro do computador e trabalhar em rede, como muitas emissoras fazem hoje, trabalham em rede e o disparo é feito lá pela emissora. Se eu quiser fazer hoje com a CBN São Paulo, que nós trabalhamos, eles fazem o disparo por lá e aqui simplesmente eu só fico olhando o disparo comercial meu. Saiu a vinheta do programa lá, terminou, vai acionar o meu computador aqui, então é muito mais fácil hoje.
Como foi o seu primeiro contato com o rádio?
Um falecido tio tinha um programa de rádio na Central do Paraná, lá na época, em 1969, e era um programa evangélico e eu fui lá com ele pra ver como é que funcionava, como é que faz, pois eu ficava ouvindo em casa e o cara soltava uma música, um hino e eu fui lá pra ver como é que funcionava. Eu fiquei vendo o operador. O operador fazendo todo aquele trabalho, todo aquele aparato, tira disco, coloca disco, abre microfone, aumenta volume e eu me empolguei com isso. Gostei e meu tio na época perguntou se eu gostaria de fazer aquilo e trabalhar no rádio. Ele falou com o diretor da rádio e no dia seguinte, às seis da manhã, eu estava lá junto com o operador. Estamos até hoje.
Como foi a aceitação pelos profissionais do rádio e ouvintes da transição do AM para o FM?
Essa transição do AM para o FM, principalmente aqui em Ponta Grossa, já esperávamos acredito há uns cinco ou seis anos. Em especial nós aqui da Sociedade Pitangui de Comunicação Ltda., porque onde tem uma CBN, ela tem AM e FM, as duas. Só que depois veio a lei para que passássemos o AM para o FM e ficássemos só com o FM. Para Ponta Grossa, essa aceitação, com certeza, foi muito grande. Porque todos os empresários de Ponta Grossa esperavam a CBN em FM. Porque no AM, não é que seja ruim, apesar de o povo gostar muito para o futebol e gostar daquele chiadinho que existe no AM, a FM já é o som mais limpo, já é bem mais sério. Realmente para Ponta Grossa a aceitação foi muito boa, para o público ouvinte e para o empresário.
Qual é a função social do rádio?
A função social do rádio é interagir com o público, é levar a música, a informação. E ela tem que estar aliada ao jornalismo, à música e levar entretenimento ao público. E não deixando de fora nem um e nem o outro: nem o jornalismo nem a música. A gente tem que aliar todos os fatos dentro da função social.
Como era e como é a interação do público?
A interação do público sempre foi através do telefone. Já mesmo do tempo antigo do rádio, sempre foi pelo telefone. O ouvinte está lá dentro da casa dele e de repente quer ouvir uma música ou quer dar alguma informação, quer falar sobre o falecimento de alguém. A interação sempre foi assim, via telefone.
Quais eram os requisitos necessários para trabalhar no rádio? Como era o processo de contratação?
Para entrar no rádio não tinha requisitos, eu entrei pela primeira vez, gostei e fiquei. Hoje nós temos alguns jornalistas, outros redatores, mas a maioria do pessoal que entrou no rádio algum tempo atrás e ainda está entrando, foi como eu. Porque há um ensinamento do próprio pessoal do rádio, a gente chegava e o pessoal ensinava a fazer rádio.
A série de entrevistas com profissionais que atuaram e atuam no rádio ponta-grossense é fruto do trabalho da estudante Nadine Sansana, orientada pelo professor Sérgio Gadini, pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Ponta Grossa, vigente entre os anos de 2018 e 2019. Sob o título Memórias de vida e trabalho na mídia regional dos Campos Gerais do Paraná, o projeto contribui com o acervo memorialístico radiofônico da cidade, tendo em vista a ausência de arquivos, registros e documentos sobre a história do rádio em Ponta Grossa.