Por Nadine Sansana
Rosa Pietrochinski nasceu no dia 30 de agosto de 1930, na Colônia Taquari dos Polacos, em Ponta Grossa. Quando era jovem, trabalhava na roça plantando mandioca, milho, arroz. Eram em cinco irmãos: dois rapazes e três moças e, desde muito pequenos, ajudavam os pais na lavoura. Rosa comenta que veio de uma família humilde, que os únicos patrimônios que tinham eram a casa e o terreno. Mas ela reforça que, apesar de a família ser simples, todos foram muito bem criados. Nasceu e cresceu na religião católica pois, além de ser descendente de poloneses, praticar uma religião fazia parte de uma educação de qualidade para os filhos.
A família de Rosa frequentava a igreja Sagrado Coração de Jesus (mais conhecida como igreja dos Polacos), no centro de Ponta Grossa, que até então era a única igreja mais próxima à sua casa. Iam à missa quase todos os domingos. Ela relembra que, naquela época, a estrutura atual estava sendo construída com a ajuda de seu pai e seus tios. Rosa descreve a antiga igreja: “Era uma igreja bem pequena, ficava bem na esquina e a parede da igreja beirava a rua. E não era asfalto, era calçamento de pedra”. Nesta mesma igreja ela foi batizada, fez primeira comunhão e foi crismada. Muitos poloneses frequentavam a igreja Sagrado Coração. Rosa comenta que a pregação da missa era feita em português e a mesma era feita em polonês também, porque os poloneses não sabiam falar português. “Ah, mas pensa que podia ir na igreja de manga curta? Ou vestido que mostrasse o joelho? Não podia nem entrar na igreja assim”, recorda.
Aos seus onze anos de idade, Rosa conheceu Inácio. Ela conta que ele era quatro anos mais velho que ela, mas desde que se conheceram, ele já falava que gostava dela. Até que chegou um dia (Rosa já era moça, mas não se recorda a idade) que os dois se encontraram na casa de um tio dela, e este mesmo tio era padrinho de batismo de Inácio. “Daí ele falou pra minha mãe que não era pra ela deixar eu me casar com ninguém, porque ele iria se casar comigo”, relata Rosa, dando um sorriso.
Aos 20 anos casou-se com Inácio Grzebelucka, na Paróquia São José, em Ponta Grossa e passou a assinar como Rosa Grzebelucka. Ainda nesta época moravam na Colônia Taquari dos Polacos e trabalhavam na roça. Logo ganharam a primeira filha. Quando ela nasceu, continuaram indo para a lavoura, mas amarravam uma rede e deixavam a criança lá e Rosa voltava somente para amamentar.
E nessa situação de deixar a criança em uma rede, ela pegou um berne na cabeça. Rosa conta que o marido ficou preocupado pois não sabia como curar a menina. A esposa então contou que já sabia como tirar o berne, porque lá na colônia, todo mundo que ia na roça, pegava: “Era só pegar uma árvore que chamavam de Pau de Leite e riscar o tronco com alguma coisa afiada e escorria um líquido bem igual leite. Era só pegar esse líquido com algum papel e grudar aonde tinha o berne, porque ele ficava envenenado com aquilo e saía.”
Apesar de a criança não ter se ferido gravemente e nem ter ficado com sequelas, Inácio decidiu sair da Colônia e procurar uma casa na cidade, para não levar mais a filha na roça. A cidade, como relembra Rosa, se concentrava nas avenidas Ernesto Vilela, Balduíno Taques e Vicente Machado. A Ernesto Vilela era uma rua de terra, de chão esburacado e a calçada para pedestres só existia na Balduíno Taques e Vicente Machado. E ali para os lados da Ronda era um “capoeirão”.
Inácio estava à procura de um emprego como ferreiro, pois era o que sabia fazer além dos trabalhos da lavoura. Conseguiu o serviço nas imediações da Avenida Souza Naves, na saída para o Norte do Estado. Na época, era só uma rua e nem se imaginava que futuramente se tornaria uma Rodovia importante para o país. Não era no centro, mas a região também estava em desenvolvimento. O patrão logo arrumou uma casa perto da ferraria, para que a família – Inácio, Rosa e a filha mais velha, que então tinha três anos – se instalasse.
Mas como eles estavam morando de aluguel, Rosa desejava ter sua casa própria. Ficara sabendo que, próximo à ferraria, mas do outro lado da avenida, abriu um loteamento: o Bonsucesso. O marido foi, então, dar uma olhada: a região era (e ainda é) muito desnivelada, de maneira que todos os lotes tinham algum caimento, alguns mais íngremes, outros nem tanto. Rosa conta que Inácio tinha ido olhar à noite, com uma lanterna e nenhum dos lotes tinham lhe agradado. Acabou escolhendo um terreno bem na baixada, onde o caimento não era tão íngreme.
Rosa e Inácio foram os primeiros moradores do, agora, Bairro Bonsucesso. Embora alguns lotes já tivessem sido comprados, em 1955 eles construíram a primeira casa e foram a primeira família a se instalar na região. Rosa lembra que não tinham energia elétrica e, desde que mudaram para o Bonsucesso, ficaram os 25 anos seguintes sem luz. Água só tinha em casa quem fizesse poço no quintal. Entretanto, como os terrenos não eram planos, nem sempre encontrava-se água e os vizinhos tinham que compartilhar do mesmo poço.
Rosa teve, ao todo, quatro filhos. Somente a mais velha nasceu na roça, os outros três nasceram todos na mesma casa. Ela conta que viveu cinquenta e cinco anos casada: comemoraram bodas de prata com vinte e cinco anos e bodas de ouro com cinquenta. Mas faltando uma semana pra ele completar oitenta anos, em 2005, veio a falecer. Ela desconfia que ele faleceu por causa da vacina da gripe, pois na semana anterior à morte, estava bem e tomou a vacina. Alguns dias depois pegou gripe e acabou morrendo.
Hoje, aos 89 anos de idade, Rosa mora sozinha na mesma casa que há 64 anos construiu com o falecido marido. Ela mesma é quem limpa a casa e cuida do quintal. Tem uma diarista apenas para lavar suas roupas. Ela deixa a casa sempre em ordem, sempre limpa. E no quintal – onde tem bastante espaço – cria algumas galinhas e preza pelas árvores frutíferas.
Rosa sofre de dores nas pernas e acredita que seja consequência das longas distâncias que percorria quando morava na Colônia ou, mesmo quando já morava no Bonsucesso, precisava ir ao centro. Além de ter perdido o marido, Rosa também tem uma filha falecida.
Durante a entrevista, Rosa mostra o álbum de fotografias das bodas de 50 anos do casamento com Inácio. Mostra algumas pessoas, mas por causa da pouca visão não consegue identificá-las corretamente. Ela fez cirurgia nos olhos e, mesmo usando óculos, não enxerga bem.
Rosa Grzebelucka conta orgulhosa que todos os filhos casaram e que tem nove netos e seis bisnetos. A filha mais velha, já viúva também, mora no mesmo bairro que a mãe e a ajuda em alguma dificuldade. Os outros filhos moram em outras cidades. Ela conta espantada que mesmo vindo de uma família humilde e pobre, os filhos são todos trabalhadores e boas pessoas. Dá graças a Deus por isso e pelos netos terem estudado, pois a maioria é formado em alguma universidade. Rosa preza muito pela religião, diz contente que todos os filhos frequentam a igreja e que ela sempre está com a televisão ligada em algum canal católico e nunca deixa de rezar. Por último comenta que dificilmente sai de casa, mas que, quando dá certo, vai na vizinha, Anastácia, que é a única com quem ainda pode relembrar o seu idioma polonês.
Produção realizada em parceria com a disciplina de Estudos da Comunicação e Cultura da 3° série do curso de bacharelado em Jornalismo sob a supervisão da professora Karina Janz Woitowicz.