Por Manuela Roque
Todo ano é exatamente igual. Quando a sexta-feira 13 está chegando, os brasileiros começam a me evitar. É um tal de “cuidado, dá azar” que me tira do sério. Por que durante todo o ano as pessoas me dão carinho, mas nesse único dia eu viro o pior pesadelo delas? Antes que eu esqueça, meu nome é Mística. Sou uma gata preta muito especial. Tenho um vasto conhecimento sobre o mundo que habito, e principalmente a respeito das mais variadas superstições populares desse fatídico dia 13. Afinal, eu mesma sou uma delas.
Gatos pretos, sinônimos de mau agouro na sexta-feira 13, costumavam ser associados à feitiçaria e ao demônio nos tempos da Idade Média, em virtude da cor escura de nosso pelo. Tinha gente que dizia que as bruxas se transformavam em nós felinos para perambular pelas ruas à noite. Naquela época, éramos tão malvistos que até mesmo o papa nos incluiu na lista dos perseguidos pela Inquisição!
Inclusive, estudos realizados pelo Hospital de Long Island, em Nova York (EUA), afirmam que pessoas que têm gatos pretos em casa são quatro vezes mais vulneráveis a desenvolver alergias do que as que criam felinos de cor clara, já que nossa pele possui maior quantidade de um tipo de proteína que pode agravar as reações alérgicas.
Quebrar um espelho dá azar? Entre os antigos gregos, uma forma de descobrir mais sobre seu destino era usar uma tigela com água para refletir sua própria imagem. Se o recipiente caísse e quebrasse, era sinal de que a pessoa morreria ou teria dias conturbados. Os romanos conseguiram piorar a superstição e acrescentaram que o infortúnio se prolongaria por sete anos, tempo que dura cada ciclo da vida.
Passar debaixo de uma escada também atrai a desgraça? Dizem as lendas que na Europa Medieval, os invasores utilizavam escadas encostadas nos muros, na tentativa de invadir as fortalezas. Para proteger os castelos de ataques, a principal defesa era derramar óleo fervendo sobre os inimigos. Ou seja, quem estivesse debaixo da escada podia receber um “banho fatal”.
E o trevo de quatro folhas realmente traz sorte? Muitos acreditam que essa tradição começou com os druidas, antigos sacerdotes celtas, que utilizavam o trevo como um amuleto contra infortúnios. Diziam que quem encontrasse uma dessas plantinhas conseguiria enxergar demônios na floresta e, assim, escapar deles. Todo o mistério por trás do poder do trevo existe por ser um símbolo extremamente raro na natureza, visto que, em sua grande maioria, ele possui apenas três folhas. Outra atribuição dada ao trevo é pelo seu número de folhas ser considerado um número cabalístico, ou seja, possui um significado oculto. Quatro também é o número que representa as estações do ano, os pontos cardeais, os elementos alquímicos (água, ar, fogo e terra) e as fases da Lua. Curioso, não é mesmo?
E como surgiu a maldita sexta-feira 13? A má fama da data está ligada ao mito nórdico em que Loki, o deus do mal, matou o deus Balder, da justiça e da sabedoria, durante um banquete para 12 divindades na morada dos deuses. Os nórdicos também disseminavam o mito da deusa Friga, mãe do deus Balder, que foi transformada em bruxa e banida para as montanhas após a conversão dos nórdicos para o cristianismo. Friga, cujo próprio nome deu origem à palavra Friday (“sexta-feira”, em inglês), para se vingar, passou a se reunir às sextas-feiras com onze bruxas e o demônio, totalizando treze pessoas, para amaldiçoar os homens.
A Bíblia também não fica de fora dessas superstições populares. A reunião de treze pessoas na Última Ceia, às vésperas da crucificação de Jesus, aconteceu, de acordo com o livro sagrado, numa sexta-feira. O número 13 virou um sinônimo tão grande de desgraça que um estudo da seguradora britânica Norwich Union calculou que o número de acidentes nas sextas-feiras 13 é maior do que em qualquer outro dia do ano. Segundo a pesquisa, as pessoas ficariam mais aflitas ao volante nesta data. E vale ressaltar: o aumento no índice de batidas é de 13%!
Agora que você já conheceu a histórias do surgimento das principais superstições populares da sexta-feira 13, você ainda acredita que elas são reais, ou apenas invenções das nossas cabeças? Será que quebrar um espelho e passar embaixo de uma escada realmente dá azar? O trevo de quatro folhas vai te garantir sorte? Ver um gato preto trará mau agouro? E a sexta-feira 13 é um dia ruim mesmo? Tudo depende do quanto você acredita nessas superstições, e faz delas sua realidade. Nenhuma superstição vai mudar a sua rotina. Não as culpe pelos infortúnios do dia a dia. O azar é seu, e não do gato!