Por Amanda Gongra
O Festival Nacional de Teatro (Fenata) teve como atração principal a peça “Queijo e Goiabada: das canções que você não autorizou para mim” nesta quarta, 23. A peça é uma produção da Cia Cênica, da cidade São José do Rio Preto/SP, e se resume numa releitura da obra Romeu e Julieta de William Shakespeare, misturada com comédia e musical com trilha sonora do cantor Roberto Carlos.
A peça é uma forma do meta-teatro: quando o ator interpreta o narrador, e esse narrador interpreta o personagem. Ela começa com uma conversa entre os atores (ou personagens) espalhados pelo teatro, reforçando uma quebra da quarta parede constante no espetáculo. Os personagens pedem para que o público participe, cante junto a trilha sonora do musical, se levante e bata palma.
Além disto, também há uma crítica ao uso incontrolável do celular, já que quando as cenas ocorrem os personagens coadjuvantes que não tem fala no momento ficam tirando foto com o aparelho móvel. O clima romântico não é contínuo durante a peça, já que a comédia é inserida a todo momento. As músicas também estão presentes durante todo o espetáculo, tanto após as cenas fazendo como um “intervalo” do espetáculo, quanto durante as próprias cenas – mesmo quando interrompidos por outros personagens.
Porém, com tanta informação e conteúdo, o público demora para se situar e entender a história. A crítica relativa ao celular se perde e é difícil de perceber, por exemplo. Esses comentários foram reforçados pelos jurados na discussão após a peça, já que eles afirmam que “a ânsia de falar muito acaba deixando o espetáculo perdido”.
O dono de restaurante Júlio Cesar Monteiro considera uma boa peça devido a essas inovações. “Quando você junta Roberto Carlos e humor não fica uma história tão longa e pesada quanto Shakespeare costuma ser”, afirma.
O diretor Fagner Rodrigues afirma que o Fenata faz parte da história do grupo. “É muito bacana, é um festival que faz parte da nossa história”, diz. O diretor ainda fez um apelo à continuidade dos festivais ao final do espetáculo, afirmando que é tempo de resistência.
Rodrigues também fala que a escolha da trilha sonora de Roberto Carlos foi provocativa já que o cantor não costuma ceder diretos autorais. “A gente achou que ia ser processado”, brincou o diretor após pergunta do público se o cantor sabia da existência da peça. Ele ainda diz que a crítica aos celulares vem de querer retratar a peça nos tempos modernos. “Até nos ensaios era difícil para os atores saírem do celular. Hoje em dia todos os relacionamentos são fotografados, por isso pensamos em incluir esse problema na peça”, explica.
O Fenata continua até domingo, dia 27 de outubro, e hoje, às 14h, a mesma companhia apresenta a peça “Ói Lá Inezeta” no Cine-Teatro Pax. Mais informações podem ser conferidas no site: www.uepg.br/fenata.