Por Cultura Plural
Contar o ridículo sempre rendeu boas cenas no teatro. Que o digam os personagens beckettianos, só para citar um exemplo entre tantos.
E foi com a intenção de contar e cantar o ridículo que o grupo Os Geraldos, de Campinas (SP), apresentou-se na noite de segunda-feira (7), no Cine-Teatro Ópera, com o espetáculo “Hay Amor!”. Conforme o blog do grupo (osgeraldos.wordpress.com), a montagem, dirigida por Verônica Fabrini, foi criado a partir do tema “a gente é brega quando ama”, e evoca um desejo: “Que haja amor, sempre e por tudo”. “É essa necessidade que permeia os encontros e desencontros emblemáticos dessa aventura humana, que por vezes nos faz achar normal nos sentirmos sozinhos e incompletos, mesmo entre os seis [sete] bilhões de pessoas que existem no mundo. Precisamos do outro. Sempre”, diz o blog.
Com esse (grande) mote, o espetáculo já começa despretensioso e em tom cínico, satirizando o já institucionalizado casal Barbie & Bob, bonecos que, pensados a princípio como brinquedos inocentes, transformaram-se em ícones da bobice. A cena das quatro Barbies e dos dois Bobs é impagável. Depois, a montagem propõe uma estrutura aberta – cujo cenário inclui apenas um banco de praça, um grande tapete verde, dois microfones (um de cada lado do palco) e um telão ao fundo –, que mistura esquetes, coreografias e pequenos shows musicais. Pronto. Está formatada a receita para uma quase que total identificação com o público – formado, nessa noite, por vários adolescentes. As quatro atrizes e dois atores são muito competentes e afinados. Os esquetes são eficientes, muito embora não haja uma profundidade de interpretações. Nem poderia ser diferente, na verdade, porque a proposta da direção não é essa.
O espetáculo funciona, e muito bem. E uma das chaves para se entender isso é o fato de que ele tem um matiz contemporâneo no sentido de que fala a um público acostumado – quando não viciado – à rede social Facebook, onde o lado brega se manifesta de forma eloquente e na qual comentários, fotos e vídeos compartilhados são, em sua maioria, ridículos, bobocas. Porque humanos.
*Helcio Kovaleski é crítico de teatro desde 2000, quando começou a escrever para o site Convoy. Desde 2001, publica regularmente críticas sobre os espetáculos do Fenata no jornal Diário dos Campos. Também já publicou críticas de espetáculos que vieram a Ponta Grossa em outros períodos do ano. Entre 2002 e 2004, escreveu críticas de cinema no jornal d’pontaponta e, entre 2005 e 2006, críticas de televisão no jornal cultural Grimpa.
Reportagem de Helcio Kovaleski