Foto: Erika ViblyEntre risos e lágrimas, o público se deixou tocar por uma narrativa fantástica na Mostra Campos Gerais do 53º Festival Nacional de Teatro (Fenata). O casal de artistas Marcos Germano Pesck e Sionara Burkner de Abreu apresentou Estórias para Talita e comoveu a plateia ao unir emoção, sensibilidade e a representação de força e resiliência no palco. O espetáculo ocorreu na tarde da última quinta-feira (13/11) no Teatro Ceci, em Ponta Grossa, e trouxe uma fábula sobre amor e liberdade. Adaptada por Marcos, a história nasce da lembrança de um avô que conta à neta que “se você ama, você não prende”.
A diretora Heloísa Frehse Pereira reforça essa interpretação ao afirmar que a peça representa “o amor, o cultivo e a crença de que tudo é possível”. Para ela, o gesto de soltar o pássaro simboliza a confiança e a beleza que nasce quando se abandona o egoísmo. “Ao libertar o pássaro, ele retorna, permitindo que as pessoas desfrutem da beleza dele”, destaca.
Para os atores Marcos e Sionara, ambos com deficiência visual, o teatro se tornou uma terapia. Marcos relata que ingressou no teatro em 2011, após perder 100% da visão, sendo indicado ao grupo teatral da União dos Deficientes Visuais (Unidev). Ao participar de um ensaio, nunca mais saiu. Já Sionara, conheceu o grupo ao participar de uma apresentação do Fenata e se apaixonou pelo teatro, permanecendo até hoje.

Dione Navarro, escritora de literatura inclusiva, que trouxe alunas da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), enfatizou que o teatro é um outro tipo de poética que busca despertar talentos. “Fiquei marcada pela mensagem de que as pessoas com deficiência visual podem tudo, apesar das limitações físicas e devem sair do casulo da sentença, da limitação”. Navarro, que escreve a coleção Viajando pelo reino encantado, com contornos duplos e audiobook para deficientes visuais, parabenizou o grupo pela prova de que a realização é possível.
A preparação textual do espetáculo também segue uma dinâmica própria, baseada na escuta. Marcos fragmenta e grava as cenas para estudar, enquanto Sionara memoriza o texto ouvindo os áudios no celular. Marcos comenta que a parte mais difícil não foi o texto, mas a cenoplastia. Ele cita ainda o esforço adicional para ajustar a postura vocal e alternar os sotaques gaúcho e nordestino na interpretação dos diferentes pássaros. A marcação de palco, por sua vez, é um processo colaborativo, ao qual os próprios atores definem onde as cordas de orientação devem ficar.