Por Ingrid Muller
Foto: João Pimentel / Lente QuenteDesde março deste ano, o Quilombo Sutil, em Ponta Grossa (PR), se tornou ponto de encontro entre universidade e comunidade. A ação acontece por meio do projeto “Olhar, ver, criar e fazer: oficina prática para identificar patrimônios culturais das comunidades”, que busca fortalecer a identidade quilombola a partir do reconhecimento dos seus bens materiais e imateriais.
Idealizada e coordenada pela pesquisadora Marcela Cristina Bettega, doutoranda em Geografia pela UEPG, a iniciativa foi aprovada pelo Edital nº 008/2023 da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, com financiamento da Lei Paulo Gustavo. A formação inclui 48 horas de atividades práticas, baseadas na metodologia dos Inventários Participativos do IPHAN, que coloca os próprios moradores como autores do mapeamento cultural de seu território.
“O inventário participativo é um modo de construir conhecimento com o território, e não apenas sobre ele. As comunidades são autoras da própria memória”, destaca Bettega.

Caminhar, ouvir e registrar
Ao longo de cerca de 10 visitas de campo, estudantes e moradores caminharam juntos pelos espaços de memória do Quilombo Sutil. O trabalho também envolveu uma ação interinstitucional com a Universidade Federal do Paraná e a Justiça Estadual, reforçando a valorização da história quilombola.
Na fase final de organização, em novembro, os resultados serão entregues à comunidade. Entre os produtos, destacam-se e-book didático, audiolivro acessível e registros audiovisuais das oficinas e das práticas culturais

Uma rede de cooperação que cresce
O projeto mobiliza diferentes áreas do conhecimento. A UEPG firmou parceria com uma ação de extensão do curso de História; alunos de Jornalismo produzem materiais visuais e informativos; e professoras de Letras contribuem voluntariamente com tradução em Libras e acessibilidade
“O mais bonito é ver o envolvimento dos jovens das universidades e da própria comunidade, lado a lado, na construção desse inventário vivo”, destaca a coordenadora do projeto.
Ferramenta de memória e direito
Mais do que catalogar bens culturais, o Inventário Participativo é peça-chave na luta pela titulação das terras quilombolas. O documento serve como prova jurídica da ocupação ancestral e da continuidade dos laços culturais e identitários, segundo normas exigidas por órgãos como o INCRA.
Ao reunir histórias de vida, saberes tradicionais e locais de memória, o processo também fortalece vínculos entre gerações, garantindo que jovens quilombolas reconheçam e preservem sua herança cultural.
No caso do Quilombo Sutil, e de comunidades próximas, como Santa Cruz, o inventário reafirma ligações históricas e parentescas que sustentam a organização social no território.

O material produzido pela oficina ressalta a dimensão afetiva do território. Em um dos registros do grupo, lê-se:
“Território é terra e é vida. Mesmo quando alguém sai, a terra caminha junto dentro da pessoa.”
Para acompanhar o projeto:
Instagram: @olharvercriarefazer
