Foto: Ingrid Muller“Meu Papai Noel de verdade usava máscara de solda e consertava minha bicicletinha. Ai, que delícia era passear com ela pela fazenda do meu avô”. Assim se desenrolou grande parte do monólogo de Paulo Betti, no encerramento do 53° Fenata. O ator trouxe, por meio das lembranças da própria vida, fragmentos especiais que revelaram quem foi o Paulo antes das câmeras.
Uma peça repleta de memória e afetividade. A partir de imagens, objetos e falas marcantes de seus familiares, ele recuperou sua essência e a compartilhou com o público. Foi impossível não se envolver e desejar que ele continuasse a falar, como quem escuta uma velha história contada pela primeira vez.

Paulo relembra uma infância simples, porém feliz. “Eu era os olhos de leitura da minha mãe”. Ajudava sua avó e sua mãe com o maior prazer, num tempo em que a devoção familiar tinha o toque morno do fim de tarde na roça.
Em entrevista ao Cultura Plural, o ator comentou o desafio de transformar a própria vida em espetáculo. “Realizar um monólogo sobre si mesmo não é tarefa fácil. Precisei pensar em formas de torná-lo interessante para quem assiste. Por isso, trouxe tons de humor, para deixá-lo leve e envolvente”.

No palco, ele mergulhou nas dores da morte dos pais e avós e os últimos instantes ao lado da mãe, e traduziu tudo em técnica teatral, sem perder a humanidade que sustenta cada gesto. “Por mais que eu esteja no domínio da técnica, eu estou narrando a morte da minha mãe. Foi um desafio enorme”, relata. Para ele, a obra se equilibra como a vida: 25% drama, 25% poesia e 50% humor.

A cidade de Ponta Grossa não foi um território novo para Paulo. O ator gravou na cidade seu filme Cafundó e, desde então, carrega com carinho o acolhimento que recebeu aqui. “É sempre um prazer retornar a Ponta Grossa. E, neste ano, estar no Fenata, que é um evento de tanta troca artística”.
Ao final da entrevista, perguntei: “Paulo, o que é o teatro para você?” Ele sorriu, e disse: “O teatro para mim é vida. É família. Eu vivo e trabalho por isso”.

Assim ele encerrou, na última quinta-feira (13/11), o 53º Fenata, aplaudido de pé pela plateia. Um monólogo que, mais do que espetáculo, foi encontro, daqueles que ficam guardados para sempre, longe dos olhos, mas perto do coração.

Paulo Betti é um renomado ator, autor e diretor brasileiro, com mais de 40 anos dedicados ao teatro, ao cinema e à televisão. Formado pela Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo, iniciou sua trajetória teatral em 1972. No cinema, destacou-se em produções como Mauá: o imperador e o Rei e Zuzu Angel. Já na televisão, marcou gerações em novelas clássicas como Tieta, Mulheres de areia e O clone.
