Por Fernanda Matos
Escrever uma música e cantar com sentimento aquilo que foi escrito não é para qualquer pessoa, mas Gabriela de Paula, mais conhecida como MUM, faz isso muito bem em suas canções. Suas produções entre 2019 e 2025 têm um viés muito forte ao abordar o reconhecimento e valorização das mulheres na sociedade. A voz feminina que traça como é ser mulher no cotidiano, pontua também questões como autoestima, medos e inseguranças. Cantoras como MUM, que buscam mostrar a força da mulher dentro da sociedade, são de extrema importância, ainda mais considerando o cenário de Ponta Grossa, onde a música feminina ainda é escassa. Independentemente do estilo das canções, as mulheres que são artistas na cidade ainda buscam aprovação e reconhecimento.
Ao olhar de maneira mais atenta para as músicas da artista, é indiscutível que elas se interconectam, mesmo que em anos diferentes, possam contar a mesma história ou como se fosse uma continuação. Isso é possível de ser visto nas canções Sangue e Carcaça. As duas músicas trazem nas letras a necessidade de gritar a revolta pela violência contra a mulher e como essa revolta pode ser feita pela voz.
A verdade é que MUM fala por muitas. Mesmo que a representatividade feminina tenha crescido ao longo dos anos, ainda não é o suficiente para acabar com o patriarcado que gira em torno disso, principalmente em relação à objetificação feminina. Um estudo da Universidade Federal da Paraíba, feito por Harue Tanaka e que leva o título de Mulheres na música: uma trajetória de luta e invisibilidade através da lente de uma pesquisadora mostra exatamente isso, que a participação das mulheres na música ainda é minoria e que é uma luta de décadas a fim de buscar reconhecimento nesse espaço, que muitas vezes ainda é dominado pelos homens.
A união da luta das mulheres contra a repressão e a valorização delas na sociedade é uma característica marcante de MUM, seja nas letras ou nos videoclipes. Aliás, as letras são intensas e precisam de uma interpretação aguçada por parte de quem ouve, o que pode afetar um pouco quem não costuma ouvir músicas com essa característica ou até mesmo quem aprecia a obra pela primeira vez. Ainda assim, os videoclipes da cantora são autoexplicativos, o que complementa as letras e pode ajudar o ouvinte a entender melhor. Além disso, essas produções audiovisuais são longas, quase com dez minutos, em sua grande maioria, e tem como ponto forte também o lançamento do vídeo com audiodescrição, o que aproxima as pessoas com deficiência auditiva para poder apreciar o trabalho também.
Outro destaque para os videoclipes é que os atores, assim como a própria MUM, conseguem passar sensibilidade nas imagens, o medo ou a coragem. No último clipe, de Sangue, há um jogo de sentidos, principalmente com a cor vermelha em toda a produção. As luzes, as fumaças, as atrizes deitadas no chão, ou os homens de maneira a sufocá-las, conseguem expressar aquilo que a música menciona. É sempre tudo muito bem pensado e visualizado para dar personalidade às produções e ter sentido com o que a música quer afirmar.
Foto: reprodução/MUM
As músicas da artista são características dela, se expressam através de uma linguagem única e com sua personalidade, e desejam passar sentimentos. A originalidade das canções é perceptível, pois são contadas a partir da visão de uma mulher que também está inserida na sociedade e nas músicas como personagem principal — algo que remete a quem também vive a luta no cotidiano e entende como é necessária a união feminina. Não é como se fosse um homem contando uma história na música; a cantora que vive a realidade todos os dias consegue deixar o público que ouve as músicas muito mais seguro e com muito mais representatividade de fato, porque é algo sendo contado por experiências pessoais.
As obras de MUM se aproximam muito às de outras cantoras brasileiras, mas principalmente com as de Rita Lee, um ícone da música que nunca teve como característica letras superficiais ou genéricas — além de que sempre levantava a bandeira feminina, da liberdade feminina e da luta de ser mulher na sociedade. Quando se fala da relevância cultural de MUM para a sociedade, é fácil de dizer que ela transparece o entendimento dos direitos das mulheres em suas letras e como elas podem ocupar todos os espaços que desejam. A cantora fala principalmente para o público que escuta e entende a coragem que é ser mulher numa sociedade em que o desmerecimento feminino é superior à valorização.
A conexão entre as músicas e os álbuns faz com que se alimente a vontade de ouvir, com temas de extrema importância e com letras e melodias que levam quem ouve para dentro daquela produção. As obras de MUM, sejam só as músicas em plataformas como Spotify ou Deezer, ou os videoclipes que estão disponíveis no YouTube, são interessantes para as pessoas que gostam de ouvir ou assistir várias vezes para interpretar e realmente entender a história por trás de uma canção. MUM aciona elementos que fazem a mulher se sentir valorizada dentro da música e fora dela.