Por Amanda Stafin
Por Amanda Stafin, Fabrício Zvir e Victoria Fonseca
Religiosos de matriz africana celebraram, no último sábado (26/08), no Lago de Olarias, a Festa de Nanã – Águas Ancestrais, uma homenagem à orixá de mesmo nome. O evento reuniu praticantes de religiões de matriz africana que expressaram a religiosidade por meio de danças e músicas da cultura afro-brasileira.
A celebração foi realizada pela União dos Templos de Matriz Africana e Ameríndias com apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Ponta Grossa e do Círculo de Cooperação de Ponta Grossa da Iniciativa das Religiões Unidas (URI, na sigla em inglês).
O presidente da União dos Templos de Matriz Africana de Ponta Grossa, Hallison Rafael Mocelim, explica que o evento tem um significado simbólico. “Nesta edição, celebramos Nanã, um orixá ancestral ligado à sabedoria e ao ciclo da vida”, destaca. A escolha em homenagear Nanã acontece por sua imagem estar associada à figura de Buruquê, a senhora do barro e da criação. E, também, pelo sincretismo, ao possuir elementos semelhantes à padroeira de Ponta Grossa, Sant’Ana.
Além da celebração à Nanã, com cantos, louvações e oferendas, a programação seguiu com a distribuição de fitas com pedidos direcionados a orixá, amarradas no deck do lago. Depois, uma roda de conversa que abordou os símbolos de nascimento, morte e memória relacionados à Naná, que reforçou a centralidade do matriarcado nas tradições afro-brasileiras.
Na continuação da festa, o grupo Tambores do Paraná realizou uma apresentação com ênfase na vibração ancestral, resistência e axé, seguida por um momento de reverência às benzedeiras, que destacou a sabedoria e o poder das mãos curadoras das mulheres que preservam a prática.
Para encerrar a programação, os Curimbas de Ponta Grossa promoveram um momento de expressão cultural e espiritual com cantos, tambor e axé. Durante todo o evento, também foi realizada uma feira de exposição com artesãos ligados à cultura do axé.
Michael Santos de Oliveira, umbantista há três anos, participou do evento e destaca que iniciativas como a festa ajudam a promover conhecimento e respeto. “Nossa religião ainda é muito discriminada”, reforça.
A Festa de Nanã acontece há quase 500 anos no Brasil. Ponta Grossa é uma cidade com predominância católica. Para Mocelim, a celebração é uma forma de resistência. “Se não mostrarmos o que é a nossa religião, nunca conseguiremos desmistificar o olhar negativo que muitas vezes está ligado às nossas crenças. Todo ano os terreiros da cidade vão se reunir para manter essa tradição viva. É uma forma de honrar nossos ancestrais e seguir firmes na luta por respeito e visibilidade”, finaliza.