Por Amanda Stafin
Por Amanda Stafin
Por 75 anos, o Foto Carlos foi um local de serviços fotográficos e das memórias de milhares de famílias ponta-grossenses. Batizados, casamentos, formaturas, retratos de família: momentos marcantes que ganharam forma e permanência por meio das lentes de profissionais que passaram pela trajetória da empresa. Agora, a tradicional loja de fotografia, fundada em 1950 por Carlos Jendreieck, encerra oficialmente as atividades no dia 30 de maio de 2025.
Mais do que um comércio, o Foto Carlos foi um ponto de encontro entre gerações, preservando memórias com cuidado artesanal. Foi também o primeiro estúdio da região dos Campos Gerais a imprimir fotos coloridas, um marco para a fotografia local.
As vivências da trajetória estão gravadas na memória de Roberto Jendreieck, filho do fundador. Ele começou a trabalhar no negócio com apenas 18 anos e, aos 21, já administrava a empresa. Hoje, aos 70, despede-se da loja que foi seu lar por mais de cinco décadas. “A gente, depois de tantos anos, acaba se apegando. É muito difícil deixar tudo o que construímos ao longo de 75 anos. Cada funcionário agora vai ter que buscar seu caminho em outro lugar”, comenta Roberto.
O encerramento, segundo ele, acontece por dois motivos principais: o desejo de se aposentar e a falta de herdeiros dispostos a dar continuidade ao negócio. “Somos quatro sócios e nenhum dos filhos quis seguir. Então decidimos encerrar com dignidade”, explica.
Em 1950, Carlos Jendreieck chegou a Ponta Grossa com o sonho de abrir um estúdio fotográfico. A cidade ainda era pequena, mas logo o Foto Carlos se tornou referência em serviços fotográficos, acompanhando o crescimento urbano e o desenvolvimento tecnológico. “Na época, a gente fazia revelações com chapas de vidro. Depois vieram câmeras, máquinas de vídeo. A fotografia passou por várias transformações”, relembra Roberto.
A loja sobreviveu às transições do analógico ao digital. Roberto conta que a equipe teve várias dificuldades, com concorrentes, planos de governo e a pandemia de Covid-19, mas que mesmo assim, constantes avanços como a mudança do sistema convencional para o digital, onde reaprender tudo. “Hoje as pessoas tiram fotos com o celular e não revelam mais. Estão perdendo momentos por não imprimir. Mas mesmo com baixa na procura, conseguimos manter a empresa em pé até o momento atual”, afirma.
A importância cultural do Foto Carlos ultrapassa o âmbito comercial; é parte da formação da memória coletiva de Ponta Grossa “A fotografia impressa tem muito valor. Guardar esses registros por anos ajuda a preservar as lembranças, mesmo que fiquem esquecidos no fundo da gaveta”, diz Roberto.
Vozes da história
Funcionária do Foto Carlos por 17 anos, Tais Maria Cruz guarda com carinho as lembranças de uma trajetória que lhe deu uma profissão. “Entrei em 1976 para um trabalho temporário, sem saber absolutamente nada de fotografia. Saí como gerente”, relembra.
Tais lembra que em um ambiente predominantemente masculino, chegou a liderar uma equipe com 22 homens, uma responsabilidade que, segundo ela, foi marcada pelo respeito mútuo. “O que ficou foram os bons momentos. Éramos muito unidos”. Ela faz questão de agradecer a Carlos, proprietário da loja, pela oportunidade. “Ele me disse que me ensinaria, e realmente me ensinou tudo o que eu precisava saber.” Para Tais, o valor da fotografia impressa permanece vivo: “Ela te permite tocar as lembranças. Ter a imagem nas mãos é reviver pessoas, momentos que já se foram”.
Hoje, observa com certo pesar o distanciamento das novas gerações da fotografia impressa. “Estamos perdendo a oportunidade de manter viva essa forma de memória.” E para quem deseja começar na profissão, ela deixa um conselho: “O mais importante é gostar de fotografar. Se você direciona o foco, adicionando habilidade e conhecimento, o equipamento se torna secundário”.
Roberto aconselha que quem está iniciando na fotografia tenha cautela nos investimentos, poupando sempre que possível para reinvestir no próprio trabalho. Ele destaca a importância de acompanhar as mudanças do mercado e estar atento às preferências dos clientes, que variam conforme as tendências de cada época.
Com o fim das atividades, os arquivos se encerram, mas as imagens permanecem. O Foto Carlos sai de cena, mas deixa um legado de cuidado, técnica e afeto. E, talvez o mais importante: ensinou Ponta Grossa a valorizar a memória, não apenas como lembrança, mas como documento vivo de sua história.