Lúgubre olhar No jardim que a manhã florescee as estrelas semeiam os sonhos,leio o pequeno folhetocom instruções para ser feliz,dizeres de esperançae solidão,a calma de viverem si. Passo os olhosem árvores de segredos,pássaros silenciososde saberes antigos.As luzes queimamo horizonte severo,aturdidos de poemasos olhos se vão,e a doce madrugadaaquieta os corações,beijar ilusões sublimesem cores de viver,lúgubre […]
Adicionar méritos Encontro o insetoamorfo na grama,uma mistura de chuvae sensações passadas,um olhar mais desatentonão o teria visto,ali, meio enterrado,meio morto,invisível aos medos,mas posso vê-locomo há tanto faço,olho nos olhose encaro,a vida corre o rioinevitávelde viver.
Inclinação de natureza Um sapo atravessa o quintal,um olhar desvairadosobre meus anseios,um sapo saltandoem direção certaao porvir,um olhar incrédulonas minhas expectativas,um sapo coaxandoa momentos espalhadosno forro,uma vista completadas minhas aflições,e o sapo parapara entender a vidae quem sabe se entender,olho o asfalto negroe os carros raivosos,poderia eu morrer?
Batendo xícaras Um farfalhar de asas,duas flores aqui e ali,quatro crianças a brincar,uma correria alheia,nuvens deitadas sob o céu,café quente e forte,uma dúzia de sonhose um olhar perdido.A receita de uma tardede primavera.
Suor e sangue Esse jaleco pesacomo pesa o arado,esse estetoscópio marcacomo ferro quente na carne fria,tento me debater,mas é inútil,você é fraco,você é mercenário,você tem que fingir,você tem que ser cego! Algo grudento adere minha pele,parece a vergonha,parece a culpa,mas é o sanguedo paciente sobre a maca,o sangue,a marca da vida,o sangue,o anúncio da morte. […]
O escritor sofre,sofre em silêncioa desaprovação das palavras,sofre a solidãodo amor pelas linhas,do amorpela solidão. Estou diante do papelcomo o solo nuno deserto da alma,na profusão de sonhose medosque em mim vivem. O escritor vive isoladodas vozes do mundo,dos olhos da escuridão,dos temores sinceros,mas não vive longe do amorque vive em si. Vem cá,meu amor,quero-te […]
Há oito anos Há oito anosa felicidade é diária,não é apenas um espírito a rondar a casa,não é apenas um desejo distante,uma notícia que vem de longe. Há oito anosos sorrisos são diários,pois neles guardamos as lembranças,o amor é contínuoe os dias cheios de alegria permanente. Há oito anosestá mais fácil lutar,mesmo com os encontros […]
Quadrados O papel em brancome encara,como se a dívidanão estivesse ali,sem ser quitada,ele necessita de palavrasque timidamenteo preencham,e da bagunça mentalsurgem superfíciese formas. A manhã cinzaabstrai-me sonhos leves,chega às portasdo casteloe movimentaseus pesados sinos,comovido,deixo-me. E um talvezé um tom estranho,quando o vermelhosuspeita de umasexta-feira doce,e a dissonânciadiscorda de uma maneiratão bela aos meus ouvidos,posso sorrirpara […]
Clave de sol Mas a vidaninguém sabe,ninguém traduzem uma partitura,ninguém pinta sob óleo,não há palavraou mundo suficiente,viver range nos dentes. E o poema começaem uma oposição,e o que não se pensaem oposição,tudo que começase contrapõeem um ponto da linha,pois a linha é viver. A vidaé amar em tudo,é olhar para alguéme encontrarsuas respostas.
Da eterna poesia Às vezes escrevo por Deus,às vezes escrevo por mim,depois de tanto escrever,mal sei o que já escrevi. De súbito me vemuma vontade de desenhare as linhas entãotransformam-se em lar. Uma fala,uma falha,espalha o que falta. Uma sombra,um assombro,até sua volta.