Por Joyce Clara
Foto: ReproduçãoPor Joyce Clara
Quem pretende assistir Vidas Passadas (2023) não deve esperar uma história de amor de um casal, apesar de definitivamente ser um filme sobre amor. Trata-se de uma história de amor próprio. O primeiro longa-metragem dirigido pela sul-coreana Celine Song – que antes atuou na construção de peças e também como roteirista na série “A roda do tempo” – já chamou atenção da Academia e concorre ao Oscar 2024 nas categorias de melhor filme e roteiro original.
Com muitas referências trazidas da própria vida de Celine, a narrativa percorre momentos da vida de Na Young (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), amigos na infância que perdem contato quando a família Young se muda da Coreia do Sul para o Canadá. Doze anos depois, após um lapso de memória do passado, eles se reencontram nas redes sociais e voltam a conversar.
Na Young, agora chamada de Nora, vive em Nova York e estuda para se tornar uma dramaturga, enquanto Hae permanece na Coreia. Apesar da distância e das diferenças de fuso horário, os dois se esforçam para conversar todo dia e Nora se vê afastada dos seus objetivos pessoais. A partir dessa reflexão, decide não falar mais com ele: “Eu quero parar de conversar por um tempo (…) só por enquanto, eu volto rápido”. Até 12 anos depois, quando Hae visita, nos Estados Unidos, Nora, que agora é uma mulher casada.
A história se assemelha ao também indicado ao Oscar de melhor filme, em 2017, La La Land (2016). Trata-se do retrato de um amor que não está destinado a acontecer. Apesar de neste eles não desenvolverem um relacionamento como casal em nenhum momento, o filme se constrói em uma nuvem constante de “e se”. Um dos alicerces do filme é o conceito de In Yun: Significa “providência” ou “destino”, mas é especificamente sobre relacionamentos entre pessoas. Acho que vem do Budismo. E reencarnação. É um “In-Yun” se dois estranhos passam um pelo outro na rua e suas roupas roçam acidentalmente, porque significa que deve ter havido algo entre eles em suas vidas passadas. Se duas pessoas se casam, dizem que é porque existiram oito mil camadas de In-Yun. Mais de oito mil vidas – explica Nora ao marido no dia em que se conhecem.
Porém, toda essa atmosfera de possibilidades e destino diz muito mais sobre a própria vida de Nora do que sobre um possível relacionamento com Hae, ele é um símbolo de sua vida pregressa, de quando era Na Young. O que teria acontecido se ela não tivesse emigrado para o Canadá? Como seria a vida dela? Quem ela seria? São muito mais essas perguntas que surgem quando ela vê o rosto do amigo de infância. O filme, sobretudo, é sobre autoconhecimento, sobre saber que escolhas definem quem você se torna, e também que um amor, por mais genuíno que seja, às vezes não está destinado a acontecer, pelo menos não nesta vida.