Indicado a Melhor filme e Melhor roteiro adaptado, “Entre Mulheres” assume excepcionalmente seu papel. O longa é baseado no livro homônimo de Miriam Toews e mais do que isso, inspirado em eventos reais que ocorreram em 2009 na colônia de Manitoba, na Bolívia – apesar de o filme se passar nos EUA. Dirigido por Sarah Polley e roteirizado por Miriam Toews juntamente à diretora, “Entre Mulheres” expõe a realidade de horror vivida por mulheres de uma comunidade cristã ultraconservadora, cujos moradores rejeitavam a modernidade e a tecnologia, na qual os homens sistematicamente estupravam e abusavam sexualmente das mulheres e meninas enquanto elas dormiam, tendo isso em vista, depois de longo tempo o segredo é descoberto por elas, as quais passam a questionar suas realidades.
Inicialmente a obra apresenta a vida das mulheres na Colônia, na qual elas não eram permitidas de receber o básico de educação, sendo inclusive analfabetas. Eram privadas também de conhecer a realidade exterior à suas, se limitando e tornando normalizada – justificada pelas suas crenças – à que viviam. No contexto inicial do filme, alguns homens já haviam sido presos acusados de abuso, e as mulheres, ao descobrirem, começam a questionar situações que haviam passado – eram sedadas sem consciência disso e acordavam sujas de sangue, com dores. Em algumas situações, descobriram-se grávidas, como ocorre com Ona, uma das personagens da narrativa. Apesar disso, todas essas situações eram sempre justificadas por fantasmas ou demônios, que teoricamente puniam as pelos seus pecados. Esses ataques ocorreram por muito tempo mas, por mais terríveis que fossem, o assunto era sempre silenciado pelas famílias, e isso só se tornou algo que as vítimas começaram a questionar após perceberem que todas passavam pelos mesmos ataques.
Tendo isso em vista, encontravam-se para conversar sobre qual seria o próximo passo, apresentando opções de como poderiam reagir. Questionando se deveriam ou não buscarem vingança, libertarem-se ou até mesmo se deveriam perdoar tais homens culpados pelos crimes para que pudessem ir para o céu, como acreditavam fielmente em sua religião. Junto a isso, trazendo à tona reflexões sobre machismo, fé, poder e perdão, significativos questionamentos visto o contexto em que estavam inseridas.
Ao todo, tanto o livro quanto o longa não têm como objetivo focar nos ataques que essas mulheres sofriam, mas na reação, em seus pensamentos a partir da descoberta e consciência de suas situações. A maior parte das sequências da obra se passa nos encontros que as vítimas começaram a realizar e, de modo geral, sem cenas muito pesadas, mas não deixando de trazer ao espectador reflexões profundas e de grande importância a respeito da mulher na sociedade. Sem dúvidas, é incrível a forma com que Sarah Polley e Miriam Toews abordam a questão da luta contra o patriarcado a partir dos abusos físicos e psicológicos sofridos pelas mulheres – que, aqui, são entremeados à complexidade de relações também perpassadas por crenças religiosas.