A noite de sexta-feira (09) foi marcada por uma live promovida pelo Museu dos Campos Gerais de Ponta Grossa (MCG) em homenagem ao jornalista e poeta Fernando Alexandre, que faleceu na última quarta-feira (07), em Florianópolis (SC). O poeta fez história ao criar o jornal ‘Lira Paulistana’ que foi um dos primeiros tabloides a se dedicar à cultura. Para esta live, o diretor de acervo do MCG e professor Rafael Schoenherr convidou o historiador Tiago Alves para relembrar a trajetória do ‘Lira Paulistana’ e os marcos de Fernando Alexandre.
Durante a live, Alves ressaltou a expressividade do periódico e a amizade que tinha com o jornalista. O historiador conta que antes de conhecer Alexandre já admirava a trajetória do ‘Lira Paulistana’ como uma corrente cultural importante na história do país. Criado em 1981, o semanário prometia ser “Um jornal de lazer, cultura, agitos e muitos serviços”. O editor, Fernando Alexandre, produzia o periódico alternativo de forma artesanal e analógica para divulgar os acontecimentos culturais das artérias paulistas. Em 1982, o ‘Lira Paulistana’ encerrou suas atividades com 12 publicações.
Alves comenta que, apesar da efemeridade do semanário, não se pode quantificar a importância de um jornal pela duração. O ‘Lira Paulistana’ influenciou outros veículos a dar destaque para a cultura no Brasil, como, por exemplo, o Caderno 2, d’O Estado de S. Paulo, e a Vejinha, da Veja São Paulo. O jornal também contou com a colaboração de nomes importantes do jornalismo no país. Dentre eles, Caco Barcellos, Caio Fernando Abreu, Inimá Simões, Maria Rita Kehl e Paulo Caruso, entre outros. “Os outros jornais não davam esse espaço para a cultura, então, o Lira surge e destaca as entranhas da arte paulista”, explica o historiador.
No final da década de 1980, Fernando Alexandre se mudou para Florianópolis, onde se entregou a cultura local. Tiago Alves conta que o jornalista era uma pessoa muito engajada com a comunidade. “O Fernandão saiu do ‘Lira Paulistana’, que teve uma vida estrondosa e curta, mas manteve essa irreverência no jornalismo e esse lado de agitador cultural”, destaca. Em 2009, Alexandre criou o blog ‘Tainha na Rede’, que falava sobre a vida na ilha e no mar. Ele também escreveu e editou o “Dicionário da Ilha – Falar e Falares da Ilha de Santa Catarina” e “Dicionário do Surf – A Língua das Ondas”.
No ano passado, o MCG em parceria com o Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), digitalizou todas as edições do ‘Lira Paulistana’. Tiago Alves foi o responsável por ceder as 12 raras edições e buscar a preservação do material. “Florianópolis é um lugar muito úmido e os jornais poderiam se perder com tempo. A digitalização do acervo teve uma importância inimaginável”, fala Alves. Agora, os volumes estão disponíveis gratuitamente no site Memórias Digitais.
Fernando Alexandre faleceu aos 71 anos e deixou saudade para quem o conheceu. Tiago Alves lembra que o jornalista era muito querido e respeitado. “Todo o sul da ilha sentiu profundamente a sua perda, porque ele era um baluarte da vivacidade cultural que tinha na região”, diz. Alves finalizou o tributo recitando um haicai de Alexandre para expressar os sentimentos pela partida do grande amigo.
“Nem poema, nem rima
Minha lágrima
Obra prima”
-Fernando Alexandre-