Por Ana Moraes
O evento com a exposição fotográfica e o mini documentário “Tarde demais para flores” ocorreu nos dias 28, 29 e 30 de outubro, em lugares distintos da cidade de Ponta Grossa. No primeiro dia a exposição aconteceu no Museu Campos Gerais, no segundo esteve no Colégio Estadual Nossa Sra. das Graças, e no terceiro no campus central da UEPG. A exposição e o mini documentário fazem parte do projeto “Um retrato do feminicídio em Ponta Grossa”, que em outubro foi contemplado na seletiva de apoio a projetos de cinema, fotografia e vídeo da Fundação Municipal de Cultura. A idealizadora do projeto é Saori Honorato, estudante de jornalismo da UEPG.
Por meio das fotos e do mini documentário, a proposta foi retratar a vida de três personagens, Célia Nunes, Elis Aparecida Farias e Sueli Terezinha de Oliveira que tiveram casos de feminicídio em suas famílias. Célia e Sueli perderam suas filhas no ano de 2017, e Elis perdeu a mãe em 2018. As três histórias mostram os impactos e as dificuldades que essas famílias enfrentam após o crime. Além da luta diária para que a memória dessas mulheres assassinadas possa ser levada pelos filhos e entes queridos.
Sobre a produção do projeto, Saori conta que precisou levantar os dados relacionados ao feminicídio na cidade. Ela identificou as redes de enfrentamento de violência contra a mulher e fez entrevistas com assistentes sociais, psicólogas, delegada e pessoas que trabalham neste entorno. Depois desse primeiro procedimento, estudou a melhor maneira para fazer uma abordagem humanizada com as famílias.
A estudante observa que, por vezes, a mídia aborda o feminicídio com viés sensacionalista e trata dos casos de maneira banalizada. Contrapondo-se a isto, o intuito do projeto é sensibilizar as pessoas para estes casos e seus impactos. “O papel do jornalismo é fazer um debate importante para a sociedade, é pegar esses crimes que aconteceram na vida dessas pessoas e levar para outros lugares, mostrar que isso não é normal. Também serve como uma maneira de evitar”, explica Saori.
Ela relata que as três mulheres que fizeram parte do projeto são responsáveis por cuidar de famílias muito grandes. “Além da dor e do sofrimento elas também são o sustento dessas pessoas, dessas crianças que perderam a mãe para o feminicídio”, completa.
Lucélia Rodrigues, estudante de Geografia e Indira Rocha, de Serviço Social, acompanharam o último dia do evento e concordam que o projeto tem uma grande relevância social. Lucélia afirma que o fato de fazer parte de uma universidade pública traz a responsabilidade de dar visibilidade para temas como esse, como forma de dar um retorno social. “Mesmo fomentando esse debate, essa informação não chega a todo mundo, então quanto mais trabalho nessa área tiver, mais a gente contribui para que as mulheres não sofram mais com a violência”, analisa Lucélia.
Indira também comenta sobre a importância do evento. “É uma iniciativa de tentar desnaturalizar a violência e, com isso, é uma forma de ser antiviolência, de tentar combater essa prática”.
Desde 2015, 12 casos de feminicídio foram registrados em Ponta Grossa e, só no ano de 2018, 1080 casos de medidas protetivas foram pedidas. Na cidade existem lugares que prestam o atendimento em casos de violência contra a mulher, entre eles o Núcleo Maria da Penha, que é um projeto da UEPG que presta apoio psicológico, acompanhamento jurídico e de assistência social para as vítimas, a Patrulha Maria da Penha e a Delegacia da Mulher.