O segundo dia do 5º Festival Nacional de Contadores de Histórias contou com quatro apresentações realizadas na Mansão Villa Hilda. Sob a temática “Causos de arrepiar gente grande”, os contos estavam relacionados com temáticas sobrenaturais ouvidas pelo Brasil. Entre poucas luzes e cerca de 50 pessoas sentadas no chão, os contadores davam vida a personagens únicos e caraterísticos, cada um com sua aventura, fosse cômica, dramática ou moral.
A primeira contadora da noite, Josiane Geroldi, de Chapecó (SC), trouxe a história de Maria Valsa. Uma moça na flor da idade que amava os bailes da época e certa noite acabou dançando com o diabo. Dessa dança, os dois se casaram e a mãe da moça, desconfiada que seu genro era o “dito cujo”, o testou e conseguiu prendê-lo em uma garrafa. Anos mais tarde, a moça o encontraria enterrado e faria um contrato com seu marido para soltá-lo. A história traz, enraizada em sua trama, negociações e enganações, envolta por um enredo cômico.
Danielle Andrade, da Bahia, contou um causo que ouviu dos garimpeiros da Chapada Diamantina sobre um padre que, com água e pão, subia a serra todos os dias. Certa vez, mesmo após acabar seu alimento, ele continuou sua caminhada e, no alto, teve uma visão da construção de uma igreja. Após a aparição de uma cobra e um caçador que não quiseram lhe ajudar, o diabo forneceu as ferramentas em troca da primeira alma que passasse na porta, quando tudo estivesse pronto. Dito e feito, em apenas horas a igreja estava construída com um sino que deveria tocar às 6 da manhã, ao meio-dia e às 6 da noite de todos os dias.
Com a igreja pronta estava na hora do diabo ser recompensado, o caçador aparece e o diabo fica feliz sabendo que levaria a alma do caçador. De repente, a cobra surge em alta velocidade e entra na igreja. Então o padre sai da igreja correndo e só para quando retorna à cidade e conta a história aos moradores, que duvidam que seja real. Eles sobem a serra e vão a procura da igreja sem nenhum resultado. Mas até hoje se ouve dizer que as pessoas que vão até o topo da serra conseguem sentir o sino bater às 6 da manhã, ao meio dia e às 6 da noite.
Marcelino Ramos contou a história de um trabalhador negro, que ajudava e era gostado por todos. Este homem se encontrou com uma moça linda e se apaixonou, foi depois que ele descobriu que era na verdade a filha do fazendeiro. A moça ficou grávida e o casal foi até a fazenda contar ao pai sobre a sua nova família. O fazendeiro orgulhoso e contrariado não aceitou o relacionamento e mandou matar o trabalhador e a criança depois de nascida. Anos depois, o fazendeiro, andando por suas terras, tropeça em um dos ossos do trabalhador e com isso fica cego. A história diz que até hoje, quando é noite de luar, tem gente que vê no meio da plantação um homem negro levando um menino loiro pela mão.
O evento se encerrou com Paula Cavalcante, do Rio de Janeiro, contando a história das terras de Guinaru, o rei dos Guinés. Todos sabiam que não se devia entrar em suas terras, mas Saboniumar decidiu ir mesmo assim. Invadindo o território, começou a jogar sementes de trigo, logo, Guinaru perguntou-lhe o que estava fazendo e começou a ajudá-lo em tudo que fazia.
Quando seu filho foi em seu lugar, este, com fome, decidiu comer um caule de trigo, como de costume, Guinaru ajudou e seus Guinés comeram todos os trigos. Saboniumar, bravo, bateu no filho, e o Rei dos Guinés ajudou, chegando a matá-lo. Assim, o mesmo acontece quando sua esposa chega para chorar e quando Saboniumar começa a se coçar quando uma formiga lhe pica e os Guinés acabam matando-o, coçando até seus ossos.
“É incrível como eles conseguem transpassar tanta emoção e sentimentos na hora de contar essas histórias, é como se você participasse de todo o enredo”, comenta o caminhoneiro Ronaldo Carneiro. O festival segue até essa sexta-feira e conta com a participação de 34 contadores e mais de 40 atividades em sua programação.