Por João Vitor Rezende
Emanuel Fernando Scheffer Rego. Cinco participações em Jogos Olímpicos. Três medalhas, uma de ouro, uma de prata e uma de bronze. Atleta da Última Década pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB). Maior vencedor de troféus e etapas do Circuito Mundial, e com 155 títulos, é o maior vencedor da história do vôlei de praia.
Em um ano como esse, grandes nomes da história olímpica são relembrados. E alguém, com um currículo desse, não poderia ser esquecido e também não poderia deixar de ser exemplo. Por essas razões, Emanuel veio a Ponta Grossa para a abertura dos Jogos Estudantis Municipais (JEM). Além dele, Sandra Pires, com duas medalhas olímpicas no vôlei de praia, também esteve na cerimônia.
Em entrevista coletiva no dia da abertura dos Jogos, no último sábado (21), Emanuel falou sobre o JEM, Olimpíadas e o futuro do esporte no país. Na ocasião, estava ao lado de José Francisco, o Gaúcho, vice-presidente da Federação Paranaense de Vôlei (FPV) e ex-técnico do campeão olímpico. Durante a coletiva, Emanuel chegou a relembrar um “treino muito gelado” que fez no Oscar Pereira quando ainda não havia trocado as quadras pelas areias.
Confira as perguntas feitas pelo Cultura Plural a Emanuel Rego.
Cultura Plural: O plano de governo dos candidatos à presidência em 2014 ligavam o esporte a cultura e a educação, aliando investimentos a base da formação esportiva. Pensar só na base em um ciclo olímpico tão importante é o suficiente?
Emanuel Rego: Nos últimos oito, nove anos, o investimento foi no esporte de alto rendimento. Porque era uma fase de você mostrar que o Brasil tem possibilidade de ser um grande celeiro de atletas com talento. Por isso grandes eventos foram trazidos ao Brasil, como a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas, em um processo que começou em 2007 no Pan-Americano. Agora, depois das Olimpíadas é o movimento contrário, de aproveitar toda essa exposição que o esporte teve e começar a formar novamente. Até é uma das bases do Ministério do Esporte que fez um projeto de alto rendimento para os atletas terem resultados e serem moldes para uma formação. Acredito que todos os projetos para incentivar os talentos no esporte serão para a formação, pois nós temos que aproveitar esse momento para voltar a formar. A cultura esportiva vai depender desse momento pra gente voltar com o esporte para a escola, para voltar a valorizar o professor de educação física, voltar a ter os esportes regionais mais valorizados.
CP: Quais as expectativas dos atletas para as Olimpíadas?
ER: A preparação brasileira para essa Olimpíada foi uma das melhores que eu já vi. Já participei de cinco olimpíadas então eu tenho a noção do que acontece na preparação. Para essa olimpíada, os atletas tiveram o apoio do Ministério dos Esportes, tiveram apoio do Comitê das Olimpíadas e das confederações. Então foi o momento que toda a estrutura foi dada para os atletas. Eu conversei mais com os atletas do vôlei de praia e eles estão muito tranquilos pra fazer só o trabalho deles, coisa que em outras edições, não tinha tanto apoio. O apoio foi dado, os atletas estão confiantes que tudo o que eles precisavam fazer de trabalho foi feito e com esse sentimento fica fácil de chegar na Olimpíada e falar: “eu vim aqui somente pra competir”. Espero que os atletas estrangeiros não tenham esse mesmo sentimento e o mesmo investimento, porque com relação aos brasileiros nada faltou na preparação.
CP: Quais são as tuas expectativas em relação ao vôlei de praia nos Jogos, com o crescimento de países como China, Estados Unidos e Holanda, e também em relação ao futuro do esporte?
ER: Tudo é um movimento natural. Todos os países tentam imitar um case de sucesso. E o Brasil é um case de sucesso. Nas últimas cinco olimpíadas temos quase 20 medalhas e somos um dos esportes que mais ganhou medalhas para o Brasil. E nós participamos só de 1996 pra cá. Em cinco edições conseguimos igualar resultados do judô, do vôlei de quadra. Isso significa que o nosso esporte é muito copiado. O desafio nosso para o futuro é fazer com que sempre tenha evolução, criar novas tecnologias, novas formas de treinamento pra se manter no topo. Porque quando eu joguei a minha primeira olimpíada era só Brasil e Estados Unidos. Já quando eu joguei em Londres, eram seis equipes que poderiam ser campeãs. Apareceram os letães, os espanhois, os alemães, Brasil, Estados Unidos e também a Itália. Agora, para essa Olimpíada, considero que pelo menos oito equipes têm condições de serem campeões e isso vai ficando cada vez mais difícil. O nosso desafio é tentar se manter e trazer sempre um histórico de evolução no esporte.
CP: Você falou em copiar, no bom sentido, claro. Você acha que o Brasil tem copiado algum exemplo?
ER: Quando os Estados Unidos foram campeões olímpicos [do vôlei de praia] em 1996, a partir daquele ano, todas as duplas estrangeiras iam para os Estados Unidos fazer seu treinamento ou sua pré-temporada. Quando eu e Ricardo fomos campeões em 2004, começaram a vir pro Brasil. Isso significa um movimento que o esporte condiciona. E nós, temos essa estrutura. No ano passado, as duas duplas brasileiras foram as campeãs mundiais. Já no início deste ano, a maioria das equipes vieram para o Brasil. Então, isso significa que a gente tem uma responsabilidade muito grande. Mas a gente sempre tem que renovar, criar algo o tempo todo.
CP: Ponta Grossa é uma cidade de mais de 300 mil habitantes, onde os esportes olímpicos ainda estão muito na base, com movimentos de escolas ou outros grupos. Castro, cidade vizinha de 70 mil habitantes, tem um time de vôlei na principal divisão do país e pode ter em breve uma equipe de basquete. O que ainda falta para Ponta Grossa ter esportes olímpicos em alto rendimento?
ER: Eu acredito que é um processo político. Acho que tem ter um entendimento do momento certo para investir, Acredito que o esporte tem essa capacidade de ajudar na saúde e na educação de uma certa maneira, não é o todo. Mas tem que ser em várias esferas, tem que comover várias áreas. Primeiro, a área escolar. As escolas têm que estar aptas a aceitar esse processo. Os clubes já estão fazendo, a natureza deles é a parte esportiva. A Fundação também tem o seu papel, a prefeitura, os deputados que representam a cidade tem que estar envolvidos no processo. Um envolvimento até pra mostrar quais são as capacidades, pois nós temos muitas empresas aqui ao redor e também tem que ter movimento do empresário. Não é só exclusividade de um setor, acho que tem que ser um trabalho conjunto de todos os segmentos e principalmente dos empresários. A Fundação tem que dar a estrutura, o colégio e o clube dão o material humano. Se cada um fazer desses segmentos a sua parte, fica mais fácil.
CP: A Lei de Incentivo ao Esporte tem ajudado a participação de empresários?
ER: Aí você tem que ver quais são os focos. O JEM pra mim é uma surpresa. Eu nunca tinha visto uma capacidade de unir tantas crianças juntas para fazer esporte. Nove mil crianças para se fazer um evento de praticamente duas semanas é uma coisa ímpar. Isso é uma coisa que a gente tem que ressaltar. A gente não pode só pensar no alto nível, no alto rendimento, nos melhores atletas. Tem que mostrar o que está sendo feito e esses jogos, pela estrutura que observei até agora, já é bem constituído e tem uma longevidade. E esse é um dos problemas do esporte. Quando a gente tem projetos de sucesso há muito tempo, a gente esquece deles e tenta buscar outros. Acho que a gente tem que valorizar o que está sendo feito e também os resultados que a cidade tem, nos Jogos da Juventude, Jogos Abertos, Jogos Regionais, que isso faz a diferença pra fazer um diagnóstico geral do que está acontecendo.