Por Ana Luisa Vaguetti
Irene Mitsue Tanabe é formada em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, em 1999. Trabalhou durante doze anos em empresas de comunicação. Faz origamis desde os seis anos, e resolveu unir a narração de histórias com a arte de dobrar papel. Irene conta histórias por todo país: livrarias, empresas, centros de cultura e feiras diversas. Já participou da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, do Festival Estadual de Contadores de Histórias de Porto Alegre, do Festival Conte Outra Vez em Recife e do Festival de Garanhuns, no sertão de Pernambuco. Na última terça-feira (19), Irene se apresentou no III Festival Nacional de Contadores de Histórias, em Ponta Grossa, e concedeu uma entrevista exclusiva para o Cultura Plural.
Cultura Plural: Como e quando surgiu essa vontade de contar histórias?
Irene: A minha formação é em Comunicação Social, eu fiz Jornalismo. Durante doze anos trabalhei em agência de comunicação, contava histórias com origamis para os executivos de empresas, fazendo dinâmicas para desenvolver a comunicação interna. Eu não sabia que contava histórias, e contava (risos). Para os empresários, isso é ótimo, por trabalhar a interação interpessoal. Um dia, minha amiga viu voluntários contando histórias no hospital, ela me incentivou e disse que era a minha cara. Quando eu comecei a contar histórias para crianças, gostei muito, muito mesmo. Comecei a me identificar tanto com esse trabalho, que as pessoas perguntavam como eu fazia aquilo e se eu não podia ensinar a técnica de contar com origamis. No começo, eu recusei muitas ofertas, pois era somente um trabalho voluntário. De tanto as pessoas insistirem, eu resolvi dar oficinas de origami. Uma coisa foi levando a outra, a Saraiva me viu, logo recebi um convite para contar histórias nas livrarias… Os convites começaram a pipocar. Eu só fui aceitando, mais ou menos na onda daquela música do Zeca Pagodinho, “deixa a vida me levar, vida leva eu”. As ofertas vinham de outros estados, comecei a viajar para outras cidades. Faltava na agência por conta do trabalho em contar histórias. Até que resolvi largar o meu emprego e me dedicar à área de narração.
Cultura Plural: De que maneira sua atuação profissional manifesta e divulga a cultura oriental?
Irene: Eu costumo contar muitas lendas e contos orientais, que eu aprendi ouvindo de tradição oral. Minha mãe não tinha livros, ela contava histórias que tinha ouvido da minha avó e bisavó. Contar história é uma maneira de levar para a posteridade nossa tradição, cultura e identidade.
Cultura Plural: Como a cultura oriental se manifesta e influencia a cultura brasileira?
Irene: Eu acho que de várias formas, não só através da culinária japonesa, mas também na forma de viver, pois muitos orientais são extremamente tranquilos e pacíficos. Nossa cultura acaba se radiando na cultura brasileira à medida que começa interagir. Conheci muito brasileiros que dizem ter se identificado com a nossa forma de viver e decidiram entrar para comunidades e associações orientais.
Cultura Plural: Qual a representatividade da cultura oriental no Paraná?
Irene: Eu sou de São Paulo, mas conheço muita gente de Curitiba, e sei que lá tem muitos orientais por conta da colonização. Já fui para Londrina também, e é a segunda cidade do país que tem mais japoneses. Essa colonização oriental foi entrando no Panará devido ao clima do estado, por ser mais ameno e fresquinho, que aproxima mais da temperatura do Japão.
Cultura Plural: Qual a importância de contar histórias para manter a diversidade cultural ativa?
Irene: É importante contar histórias porque deixamos um legado para posteridade, para as crianças. É uma forma de dizer que passei por esse mundo. É engraçado que, há pouco tempo, eu fiz uma oficina exatamente sobre isso, em que contei um conto chamado “Um Conto Mínimo”, da jornalista Heloísa Seixas. O conto é sobre um fato verídico de um avião japonês que sofreu uma pane e parou de funcionar. Ao invés de o avião cair, começou a planar durante uns vinte minutos no ar. A morte dos passageiros era iminente, mas durante esse tempo os passageiros ficaram escrevendo em bilhetes, cadernetas e guardanapos. Quando as pessoas foram no lugar dos destroços do avião, foram encontradas as mensagens que os passageiros haviam deixado. Essa era a forma que eles haviam encontrado de deixar um registro de sua passagem pela Terra. Então, podemos dizer que quando a morte é iminente, queremos deixar um recado para as pessoas. É isso que os artistas e contadores de história querem fazer, deixar uma marca de sua presença para o futuro.
Cultura Plural: Como funciona a manifestação da cultura oriental no seu cotidiano?
Irene: Tento levar a minha tranquilidade e meu jeito calmo de ser para as pessoas. Além disso, sempre procuro meditar e controlar minha ansiedade.
Cultura Plural: Como o poder de criação do origami influencia na forma de contar histórias?
Irene: Eu já levo os origamis prontos e, na maioria das vezes, eles funcionam como um recurso imagético, ilustração da história. Mas, somente alguns elementos eu acabo transformando em origami, não todos para não comprometer a imaginação do público. Já quando eu estou transformando os origamis é diferente, porque a transformação tem um poder incrível nas pessoas por trabalhar a ‘psique’, ou seja, através da história o público compreende que a vida está em uma constante transformação, em um movimento. Isso no inconsciente do ser humano é importante, pois traz esperança e fé de que as coisas podem mudar.
Cultura Plural: Como você avalia o espaço de narração de histórias no Brasil?
Irene: O espaço ampliou muito, há uns dez anos não havia tantos contadores de histórias como hoje. Contar história acabou virando uma febre, de certa forma é bom, pois isso acaba mostrando o quanto a nossa raiz e nossa cultura precisam ser ouvidas pelas pessoas, pois, na maioria das vezes, os contadores escolhem histórias de tradição oral.
Informações: Acompanhe o trabalho da contadora Irene Tanabe, pelo blog: https://origamii.wordpress.com/