Por Lucas Feld
Quando perguntei a Uchida o que ele pretende fazer de sua fotografia recebi um: “Tenho que buscar a assinatura Gabriel Uchida”. Entre as pretensões do jornalista não estão fazer parte de uma grande agência ou trabalhar para um jornalão. Ele deixa claro que a ideia de submeter-se a uma rotina trabalhista comum, cobrindo pautas impostas pelo veículo, não o satisfaz como fotojornalista. E foi esta percepção sobre o trabalho em fotojornalismo que marcou sua participação na palestra promovida pelo projeto Lente Quente durante a XXIV Semana de Estudos em Comunicação, do Curso de Jornalismo da UEPG, ocorrida no final de outubro.
Uchida gosta de ser nômade, tanto na vida quanto no trabalho. Recentemente passou uma temporada na fazenda (creio que buscava voltar aos ares da infância), quando se questionou sobre sua liberdade perante o trabalho. A conclusão foi: “Pra cada sete dias da semana, morre-se cinco pra viver dois”. Não é isso que ele faz da vida. “Se preciso de x pra viver e ganho três x, fico três meses parado”, afirma, antes de revelar que, dos dez meses deste ano, trabalhou apenas quatro, entre pré-produção, apuração, fotografias e edição.
Uchida explica que faz um trabalho arduo na pré-produção, para que quando saia a campo produza o máximo de material. Na ida a Cuba este ano produziu 16 trabalhos em 31 dias de estadia. A produção tinha como destino a Vice. Sua relação com o portal começõu em 2012 com o ‘Tatuagens de Torcida’, trabalho oriundo da cobertura das torcidas organizadas do futebol brasileiro.
Em Cuba, como não havia internet, telefone, celular ou mapa à disposição, a apuração era a pé, ‘na raça’. E foi na raça que Uchida superou o preconceito das organizadas, que recriminam qualquer repórter que se aproxime. Cansado da cobertura mídiatica que dava atenção apenas aos 22 em campo, o fotógrafo descobriu por acaso, numa partida entre Portuguesa e Santo André, em 2009, que ficar de costas ao campo, com suas lentes na geral, era muito mais produtivo, até mais digno. “Em um estadio são 30, 20 mil pessoas, são varias histórias para se contar”. Assim surge o projeto que deu projeção internacional a Uchida, o Foto Torcida.
Dentre as andanças pelas (e com) as organizadas, Uchida levou tapa na cara da polícia. Vui a má organização em um Corinthians e Palmeiras, em Presidente Prudente, resultar na atuação catastrófica de PM que feriu dois torcedores gravemente. Perdeu um amigo em briga de torcida. Mas continuou com as torcidas, pois era uma maneira de fotografar o povo, e ir além do estereótipo violento das organizadas, retrata-las em várias facetas, contando outras histórias além da do Neymar.
Ele afirma que as torcidas são um reflexo da sociedade, tanto nos preconceitos homofóbicos, machistas quanto pela violência. “A gente está num contexto de guerra. É violento no trânsito, nas relações interpessoais e a torcida também é violenta”. Gabriel vai além, é bastante taxativo com relação à polícia ao dizer que é uma instiuição fascista e deixa bem claro que as organizadas conhecem a violência da polícia há muito. Lembra que nos protestos de 2013 as organizadas foram as ruas tretar com a PM, pois como elas diziam: “Esses estudantes não sabem brigar, deixa que a gente briga por eles”.
Uchida recentemente cobriu um atentado ao povo Kurdo na Turquia. Antes de ir para lá foi questionado por amigos do porquê de ir a uma zona de conflito e enfrentou argumentos como: “Você não precisa disso, vende foto para todo o mundo”. Ele rebateu com: “No Brasil há uma guerra velada, na periferia, no centro, no trânsito. O grande protagonista é a polícia”. Atualmente o fotógrafo pretende fotografar a Fé das torcidas argentinas, estuda o mercado editorial chinês e pretende fazer das suas fotos arte. “É o lugar mais livre que se tem, a arte é subversiva, contestadora e questiona”. O resto é história, estamos todos preocupados com o aumento do dólar (menos o Uchida)