Por Juliana Emelly
Foto do cantor Eulimo para a divulgação de MHS. Crédito: Instagram do artista
MoneyHoneyShade é o título da mais nova música do cantor paranaense Eulimo, vencedor de diferentes categorias do Festival Universitário da Canção (FUC) de 2023 a 2025 (em 2023, Eulimo foi o melhor intérprete, em 2024, levou o segundo lugar na categoria geral e em 2025, alcançou o primeiro lugar geral do evento). Entre batidas envolventes, a faixa mergulha quem a escuta numa atmosfera cativante, marcada por um cenário que mescla elementos do gênero pop tradicional e alternativo. A canção nasce dentro do dark pop, um subgênero musical que se caracteriza por transmitir e explorar o sombrio, o dramático e o melancólico. MoneyHoneyShade cria, no entanto, uma experiência sensorial vibrante e elétrica.
A canção é um grito de liberdade e empoderamento. A sensação que ela transmite é a de um turbilhão de pensamentos, sentimentos e ressentimentos incrustados que, por meio da arte, encontram um lugar de expressão. Outro ponto interessante observado ao longo da música está na utilização dos efeitos sonoros, com aquele clássico som referente ao dinheiro, o que reforça ainda mais a temática. Na minha opinião esse efeito brinca com o imaginário da pessoa que escuta a música.
MHS (sigla usada para identificá-la) é uma composição musical que mergulha na temática da inveja, um dos sentimentos mais complexos e sombrios que os seres humanos podem sentir, e experimentar (como quem está sendo invejado).
Na canção, Eulino traça uma boa analogia ao comparar a pessoa que sente inveja a um predador que está em busca de uma “presa boba”, reafirmando, dessa forma, a natureza dissimulada e predatória desse sentimento (e talvez da pessoa que o experimenta). Além disso, ele utiliza como referência o “enxofre” que emana da boca da pessoa que possui o sentimento de inveja, numa metáfora que intensifica a ideia de veneno que provém do indivíduo que sente inveja.
O refrão se destaca como ponto alto da canção, carregado de deboche e crítica social. Neste momento a letra abrange uma clareza maior entre o sentimento de inveja, falsidade e ambição por status. A música afirma que os indivíduos que carregam esse sentimento consigo querem apenas uma coisa em suas relações sociais, o dinheiro (Money, em inglês). E ainda afirma que não adianta chamar por ele como Honey, que neste caso se refere a um apelido carinhoso como (querido ou amor). A frase “Que da minha boca sai arte, mas também sai Shade”, aborda um comportamento passivo-agressivo que evidencia a insatisfação referente à conduta de alguém que agiu com falsidade. Normalmente, o shade é uma atitude direta e sutil, como um deboche.
Classifico esse trecho da música como o seu clímax, pois a partir dela descobrimos o verdadeiro significado e contexto do nome que a faixa carrega, MoneyHoneyShade. Logo após o refrão, a música revela uma surpresa, uma virada inesperada: uma voz feminina que através do seu timbre delicado, porém marcante, chega aos poucos, e invade a faixa. A dona da voz é a cantora Anjulha – que, a nível de contexto, é cantora e compositora, e já trabalhou com o DJ Mariachi em outra composição.

MoneyHoneyShade representa uma etapa promissora para a carreira de Eulimo, especialmente por tratar com ousadia e intrepidez temas como a inveja e comportamentos tóxicos. Tudo isso com uma estética sonora que tem personalidade.
O aspecto crítico que levanto, é quanto à forma híbrida entre as línguas portuguesa e a inglesa durante a letra, mas principalmente no refrão. Compreendo que seja fundamental estilisticamente, e que dialogue bem com o público jovem e engajado nas mídias sociais. Porém, mesmo este sendo o público-alvo, talvez perca a força ao se expandir até pessoas que tenham pouco contato com o inglês ou sejam menos presentes nas redes sociais – o que acaba deixando a melodia mais segmentada. Talvez essa percepção venha do olhar jornalístico, que está ligada à forma como as informações são publicadas, e ao cuidado para que o maior número de pessoas possa compreender. Afinal, uma comunicação acessível, tanto no jornalismo quanto na arte, ou em qualquer outra área é essencial.
Recebi do cantor a faixa completa na pré save, que é a funcionalidade para os artistas que utilizam as plataformas de streaming para salvar sua música antes da data oficial de lançamento. Eulimo me afirmou que a música trataria da inveja, da pressão que a indústria musical impõe sobre o artista e a não retribuição devida. Como ouvinte, fiquei esperando por essa crítica social que seria muito bem colocada.
A circulação da canção será nas plataformas de streaming musical e a qualidade da faixa está excelente. Com esse perfil jovial e moderno, MoneyHoneyShade também merece um espaço nos meios de comunicação tradicionais, como as rádios. Sinto não apenas como jornalista, mas como uma pessoa que consome rádio praticamente todos os dias, que falta espaço para artistas no início de carreira.
Ouve-se muitos artistas nacionais e até mesmo estrangeiros, com um espaço enorme nas rádios ponta-grossenses, mas os artistas locais e os que as músicas não estão em alta nas plataformas digitais simplesmente não existem na programação. A música MHS é uma faixa envolvente, ousada e moderna, rica em recursos sonoros e trabalha muito bem com o tema central.