Por Amanda Stafin
Por Amanda Stafin e Ingrid Muller
O filme “É Assim que Acaba”, baseado no best-seller de Colleen Hoover, retrata a complexidade das relações abusivas, destacando como o amor pode ser confuso e doloroso quando misturado com medo e lealdade. A diretora consegue transmitir fielmente a essência de cada momento e personagem, tornando a trama ainda mais especial aos fãs de Colleen Hoover.
As atuações são um dos pontos impecáveis do filme, com a atriz que interpreta Lily entregando uma performance convincente e comovente. Seu retrato de uma mulher dividida entre o amor e a autopreservação é dolorosamente real e impactante. Inicialmente, a química entre Lily e Ryle é um dos pontos fortes do filme. No entanto, à medida que a história avança, o relacionamento dos dois começa a revelar camadas mais sombrias. O passado de Lily é explorado através de flashbacks e diários que ela escrevia quando era adolescente, revelando sua história com Atlas Corrigan, seu primeiro amor. Atlas, que veio de um passado igualmente difícil, retorna à vida de Lily em um momento crucial fazendo com que Ryle, o parceiro perfeito, demonstre comportamentos agressivos e possessivos, colocando Lily em uma situação emocionalmente desgastante.
Em suma, o filme é um retrato sobre força e superação. Ele desafia o público a refletir sobre as nuances do amor e a importância de reconhecer o próprio valor para tomar decisões que, embora difíceis, são essenciais para a sobrevivência emocional. É uma obra que não se esquiva de mostrar as duras realidades das relações abusivas e revelar que nem sempre as verdades nuas e cruas são bonitas.
“É Assim de Acaba” é um grande divisor quando se trata de crítica. Tanto o livro quanto o filme buscam, por meio da narrativa, fazer o espectador se colocar no lugar da protagonista Lily e entender os motivos, as dificuldades e as escolhas que a personagem faz. O filme é capaz de revelar o êxtase dos leitores fiéis à história da autora Colleen Hoover. Portanto, existem pontos que merecem destaque quando se trata da adaptação nas telas.
O filme é uma ótima adaptação para um livro de mais de 400 páginas. E as estratégias para recriar essa adaptação são pontos a serem observados. A seleção das principais cenas foi muito importante para transmitir a essência da narrativa. É notória a falta de algumas cenas que marcaram os fãs de “É Assim que Acaba” se limitando em apenas easter eggs, como as referências de “Procurando Nemo”. As próprias cartas que Lily escreveu para Ellen são identificadas por quem conhece a história do livro e sabe que não poderiam faltar no filme, mas essa falta de contexto prejudica a profundidade da história. Não dá para continuar a nadar sem um pouco do gás da obra original.
O desenvolvimento dos personagens também é um aspecto importante. O elenco transmitiu a essência dos personagens de forma fiel à história. Apesar do que muitos imaginavam dos personagens, a idade dos atores que compõem o elenco também remete a uma estratégia para um envelhecimento e amadurecimento da narrativa; afinal, não existem neurocirurgiões de 20 e poucos anos?
Narrativas de violência
Com um pouco mais de duas horas de duração, o filme debate a violência em diversas camadas. Cada detalhe da história seria fatal para uma tragédia cinematográfica: uma história que apresenta o corte de um relacionamento abusivo e os ciclos de violência.
A narrativa apresenta Lily como uma personagem que desde cedo presencia cenas de um relacionamento abusivo pelos seus pais. E, quando adulta, em um estalo de memórias percebe estar repetindo o mesmo ciclo que sua mãe. A protagonista se encontra em um relacionamento turbulento, sendo vítima de violência física, psicológica e doméstica. Um fato importante é que ela se afasta e decide não denunciar o abusador. Um importante ponto nessa narrativa é a falta de um debate. A denúncia remete ao público espectador o quão difícil e doloroso é esse processo. Não sugere um “conto de fadas” em que o abusador sofre as consequências dos seus atos, mas mostra que é preciso debater a violência. O fato da protagonista Lily romper com o relacionamento para proteger a si mesma e seu bebê é a quebra de um ciclo familiar. Não denunciar um abuso é, talvez, uma resolução simples da complexidade desta história.
“É Assim que Acaba” quer contar as dores e os traumas pela perspectiva de uma vítima, mas também quer mostrar que é possível recomeçar. Ao final, a própria força decide o futuro. A adaptação remete a uma possível continuação com “É Assim que Começa”, sequência da obra de Colleen Hoover. É possível um desdobramento? Ou será que ‘É Assim que Acaba”?