Por Fernanda Matos e Larissa Oliveira
O Brasil perdeu uma referência da linguística e do português. Professor, escritor, filólogo e gramático, Evanildo Cavalcante Bechara foi um dos nomes mais importantes para a gramática do país e influente para gerações de pesquisadores e professores. Ele faleceu na última quinta-feira (22), no Rio de Janeiro, aos 97 anos, por consequência de falência múltipla de órgãos.
Bechara nasceu no dia 26 de fevereiro de 1928 na cidade de Recife (PE). Ainda muito jovem, foi morar no Rio de Janeiro para completar os estudos. A vocação pelo ensino o levou a cursar Letras na Faculdade do Instituto La-Fayette, que hoje abriga a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Aos 17 anos, escreveu seu primeiro ensaio Fenômenos de Intonação, publicado em 1948. Em 1954, foi aprovado em um concurso público para a cátedra da língua portuguesa. Assim, reuniu no seu primeiro livro, intitulado de Primeiros Ensaios da Língua Portuguesa, artigos feitos entre os 18 e 25 anos, publicados em revistas e jornais. Especializou-se em Filologia Românica em Madri, entre os anos de 1961 a 1962, com uma bolsa oferecida pelo governo da Espanha.
Após o processo de formação e a descoberta da paixão pelo magistério, Bechara se tornou professor de Filologia e de Língua Portuguesa, atuando em instituições como UERJ, Universidade de Colônia (Alemanha), Universidade de Coimbra (Portugal) e Universidade Federal Fluminense (1998).
O currículo de Bechara é extenso e o prestígio conquistado pela sua dedicação aos estudos e pelo conhecimento adquirido ao longo da vida fez com que ele fosse convidado a fazer parte da Academia Brasileira de Letras. Foi eleito em 11 de dezembro de 2000, sucedendo Afrânio Coutinho, mas tomou posse no dia 25 de maio de 2001.
O então acadêmico foi diretor tesoureiro da Instituição (2002-2003) e secretário-geral (2004-2005), além de criar a Coleção Antônio de Morais Silva para publicação de estudos de língua portuguesa. Ele também era membro da Comissão de Lexicologia e Lexicografia e da Comissão de Seleção da Biblioteca Rodolfo Garcia. Atualmente, ocupava a Cadeira n°33 na Academia Brasileira de Letras.
As palavras que encantavam Bechara o tornaram um dos maiores especialistas na gramática portuguesa e o fizeram possuir uma vasta produção bibliográfica, além de conquistar o respeito e a admiração dos amantes da língua nativa.
Entre livros e ensaios, é dono de várias das principais gramáticas da língua portuguesa. Foi representante brasileiro na reforma ortográfica realizada em Portugal. Entre seus livros mais conhecidos então: Moderna Gramática Portuguesa (1999), Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade? (1986) e Gramática Escolar da Língua Portuguesa (2010).
Bechara deixou um grande legado de trabalhos realizados e do ensino destinado à população. Durante sua trajetória, ele mostrou que a norma não é uma força de prisão ou repressão, mas lugar de ensino e aprendizagem.