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Lugares de culto: manifestações religiosas nos Campos Gerais
Nova série do Cultura Plural retrata o cenário cultualístico da região
Por Cultura Plural
Símbolos que representam diferentes religiões do mundo: cristianismo, judaísmo, hinduísmo, islamismo, budismo, xintoísmo, sikhismo, bahai e jainismoCartografar o cenário religioso da Princesa dos Campos: eis o desafio proposto pela nova série de reportagens do Cultura Plural,Lugares de culto: manifestações religiosas em Ponta Grossa. Dentre outros motivos para a criação do conjunto de reportagens sobre, a iniciativa surge da falta de uma sistematização dos locais de celebrações cultualísticas na Cidade. A partir de amanhã (14/03), um texto semanal retratará um movimento confessional distinto.
Sociedade e religião
As principais tradições religiosas do mundo têm refletido e moldado os valores das sociedades. Para cientistas da religião, é impossível ignorar o papel da cultura na religiosidade. Ademais, a religião é como um espelho que mostra as vertentes da formação cultural de qualquer povo. Geralmente a temática religiosa é abordada com unilateralidades e pré-conceitos que impedem um verdadeiro encontro entre culturas e saberes adquiridos por diversos grupos humanos. O mundo das religiões é vasto e complexo. Refletir a relação entre religião e cultura talvez não nos ofereça tantas repostas quanto possamos esperar, contudo, abre-nos paradigmas diferentes, contextos desconhecidos e nos incita ao diálogo, ao respeito à diversidade e à busca da tolerância fundamental entre os seres humanos.
Repetida e corriqueiramente ouve-se que religião vem de religare, que significa reatar o homem a Deus. Porém não é assim. O vocábulo religare nem sequer existe nos dicionários de latim. Ninguém discute que religião (palavra existente em português desde o século XIII) seja um termo derivado do latim religio, religionis – culto, prática religiosa, cerimônia, lei divina, santidade. A visão mais tradicional e respeitável aposta na primeira opção. Relegere, isto é, ‘reler, revisitar, retomar o que estava largado’, pode ser visto neste contexto como o ato de reler e interpretar incessantemente os textos de certa doutrina ou, quem sabe, como a retomada de uma dimensão (espiritual) da qual a vida terrena tende a afastar os homens. Na antiguidade tardia, ganhou popularidade a tese, romântica, que liga o vocábulo religião ao verbo religare, ‘religar, atar, apertar, ligar bem’, conotando que caberia a ela atar os laços que unem a humanidade à esfera divina. Tal força poética talvez explique o sucesso da versão.
O Boletim Internacional de Pesquisa Missionária, preparado por David Barrett, da Universidade Regent, comenta que é impossível ter precisão absoluta no número de fiéis de cada filiação religiosa. Segundo o boletim, há cerca de dois bilhões de cristãos, conforme dados de 2012. Metade, são católicos. O segundo maior bloco são os cristãos afiliados a igrejas independentes, que têm cerca de 400 milhões de membros. Barrett contabilizou 350 milhões de protestantes, divididos em centenas de denominações e mais 80 milhões pertencestes à comunhão anglicana, que para muitos são um híbrido de católicos e protestantes. A tendência é que as posições desses grupos dentro do cristianismo mundial permaneçam constantes ao longo dos próximos 20 anos. Hoje, podem ser encontrados cerca de 3,5 milhões de templos em todo o mundo. Talvez o mais surpreendente seja o número de denominações cristãs, que chegam a 35.500.
Mesmo assim, o islã é a religião que mais cresce no mundo hoje. Dos 200 milhões de fiéis em 1900, os muçulmanos cresceram mais de 500% durante o século XX. No ano 2000, o islã chegou a 1,2 bilhão de seguidores, enquanto o catolicismo contabilizava 1,1 bilhão. Isso significa que, em 2025, devemos ter 1,3 bilhão de católicos em um mundo habitado por 1,8 bilhão de muçulmanos.
O total do que Barrett chama de ‘religiões diferentes’ cresceu de 1000, no ano de 1900, para 10.500 hoje, e deve chegar a 15.000 nos próximos 25 anos. Embora este crescimento pareça absurdo, o surgimento das novas religiões mostra que o mundo contemporâneo não é tão ateu nem rejeita tanto assim a religiosidade quanto se pensa.
As novas religiões misturam elementos da fé de cristãos, budistas, hindus, muçulmanos e outras menos expressivas. Por exemplo, a Dai Viet Nam engloba budismo, confucionismo e taoísmo, usa ao mesmo tempo a Bíblia e o Alcorão, e tem um líder com status de ‘Papa’. Outro exemplo são os muçulmanos Ahmadi, os quais afirmam que Jesus escapou da cruz e morreu na Índia com 120 anos.
Preocupado em falar de lugares de culto locais, visto que o Cultura Plural é uma iniciativa para publicização de informações dos Campos Gerais do Paraná, os textos dos Lugares de culto tratarão de manifestações regionais.
Num modesto esforço, as reportagens resgatarão o histórico das instituições noticiadas, peculiaridades, significado cultural dos ritos e símbolos das manifestações de culto, a relevância dos grupos para a comunidade ao redor, os significados e propósitos das formas de religiosidade, os dilemas doutrinais que cada filiação enfrenta e que interferem na cultura onde a mesma situa-se.
A cobertura de mais denominações cristãs, em detrimento de outras, não é predileção. Ocorre por conta da hegemonia da religião no Brasil e, em específico, nos Campos Gerais. Um dos objetivos é justamente identificar formas de cultos não tão conhecidas e/ou minoritárias da região.
Uma (breve) história universal da religiosidade
Estudiosos apontam que, bem antes da invenção da escrita, os seres humanos já se ligavam à religião. Assim, desde os tempos pré-históricos, a crença na existência de uma realidade (ou de realidades) transcendente(s) serviu para definir, criar culturas e atuou como um antídoto às mazelas, limitações e a finitude da existência humana.
O divino no humano e com o humano
Outra variável central nas religiosidades é o que se chama de ‘divino’, que pode ser entendida como ‘uma dimensão para além da humana’. Questões como: ‘a realidade é una ou múltipla? Pessoal ou impessoal? Situa-se fora ou dentro de nós? Próxima ou distante? É transcendente ou imanente?’, entre outras, permeiam o imaginário daqueles que filiam-se às diferentes tradições religiosas, para – além de outras coisas, buscar respostas às indagações mais profundas do ser. Cada tradição religiosa apresenta soluções próprias para as questões acima.
Como as divindades revelam-se e se tornam acessíveis aos mortais? Através das escrituras! As comunidades de fé letradas possuem coleções de escritos usados para os cultos e a educação religiosa e, às vezes, narram a história das tradições. Em algumas religiões, os textos sagrados são tidos como ‘revelações’ divinas. E, mesmo influenciados por tradições e contextos históricos, tais são o repositório dos princípios essenciais e a pedra de toque de formulações de dogmas, doutrinas e crenças fundamentais de cada grupo.
Princípios
Ao se desenvolverem, as religiões enfrentam dilemas em seu campo de atuação, no que diz respeito à aplicação de princípios passados, mediante situações e demandas novas. Os debates envoltos na aplicação de doutrinas em questões de moralidades individuais e sociais podem levar a dissidências e formação de novos subgrupos derivados de uma tradição. Não obstante, cada grupo formula princípios com o propósito de conduzir seus seguidores a alcançar os objetivos supremos daquela crençareligiosa: libertação, bem-estar, capacitação, iluminação, salvação e redenção da alma.
Lugares
As diferentes crenças estabelecem áreas em que o terreno e o sagrado se encontram, os chamados lugares de culto, cobertura jornalística objetivo-síntese da presente série. Templos, mesquitas, igrejas, santuários, salões, casas, células, pequenos grupos e afins, públicos e domésticos, são os locais de experiência religiosa compartilhada, privado ou coletivo, onde rituais, festas, atividades administrativo-hierárquicas e outras cerimônias estão centralizadas. A peculiaridade nas construções arquitetônicas simbolizam caracteres caros e importantes para a compreensão do sagrado pelo adorador.
Adendos
Igreja não é sinônimo de religião. Igreja é o local de culto e sinônimo de denominações diferentes no cristianismo, grosso modo; religião são os sistemas de crença diversos; por conseguinte, no cristianismo não existem diferentes religiões – o cristianismo é uma religião –, mas diversas denominações religiosas, ou seja, diferentes igrejas cristãs.
Para cabal cumprimento dos objetivos da série, o Cultura Plural pede a colaboração dos leitores, através do envio de sugestões de manifestações religiosas nos Campos Gerais. O contato pode ser feito através do e-mail contato@culturaplural.com.br.
Nessa esteira, um esboço de um tópico que será tratado ao longo da série, já foi tema no Cultura Plural. Veja aqui.
Reportagem de Kevin Willian Kossar
Cultura Plural
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