Por Cultura Plural
Num cenário colorido, ilustrado com painéis de retalho, com um um ambiente aconchegante acontece a peça “Pois é, vizinha…”. Na adaptação da obra vencedora do prêmio Nobel de literatura de 1997, de Franca Rame e Dario Fo, “Una Donna Sola”, Deborah Finocchiaro dá vida à Maria, uma simples dona de casa que vive trancada em casa, pelo marido, submetida a maus tratos e agressões. Os 70 minutos de espetáculo abordam de forma humorística assuntos, ainda, muito delicados de se tratar, como a agressão doméstica e violência à mulher.
A peça é estrelada por Deborah, que vive a protagonista Maria. A identificação dos personagens acontece a partir de falas e sons, produzidos por outro ator que permanece atrás dos painéis. A história narra as peripécias de Maria, uma dona de casa trancafiada em seu apartamento pelo marido, Aldo, que vê na nova vizinha do apartamento da frente, Ana, uma amiga íntima, e conta-lhe suas histórias e segredos.
Contou sobre seu cunhado, que sofreu um acidente, ficou paralítico, podendo mexer apenas uma das mãos e se comunicar através de murmúrios, e ainda assim continuou a assediar todas as moças que se aproximavam dele, inclusive Maria. Ligações de um tarado misterioso, um vizinho a espiava pela janela, as agressões do marido e como conheceu o amor, numa relação com um rapaz de apenas 15 anos.
Maria encena para a vizinha a história de sua vida. É surpreendente a abordagem cômica de assuntos delicados, e mesmo tratando do tema agressão a personagem o faz de forma descontraída e espontânea. A conformidade de Maria com o casamento mal sucedido, também realidade de várias mulheres, é o que mais chama a atenção, pois mesmo com o fato de estar trancafiada no apartamento por um mês e doze dias, ela justifica com “eu tenho tudo dentro de casa” ou “casamentos são assim mesmo”.
O desfecho acontece de forma inesperada. Maria se depara com a possibilidade de ser livre, mas como nunca desfrutou da liberdade não sabe, exatamente, como agir perante a isto. Então, num descarrego de tensão, acaba empurrando o cunhado escada abaixo e atirando no marido. Tudo isso enquanto Ana a assistia da janela de sua casa, concluindo o espetáculo com a frase “Pois é, vizinha…”.
Reportagem de Crys Kühl