Por Cultura Plural
Unindo teatro épico e crítica social, GTU retorna aos palcos com peça de Bertolt Brecht na UEPG
Por Ingrid Müller, Lucas Jolondek e Yasmin Aguilera
Com música ao vivo, dança e um olhar crítico sobre a sociedade, o Grupo de Teatro da Universidade Estadual de Ponta Grossa (GTU) marcou seu retorno aos palcos nA última quinta (05/06), com uma releitura da peça Aquele que diz sim x Aquele que diz não. Após o sucesso no Festival Nacional de Teatro (FENATA) em 2024, o espetáculo ganhou uma nova temporada e foi exibido no Grande Auditório da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Sob direção de Gabriel Vernek, a montagem se destaca por um elenco afinado e por uma proposta artística que une elementos do teatro épico, música ao vivo e crítica social. A obra, escrita por Bertolt Brecht entre 1929 e 1930, convida o público a refletir sobre questões éticas e coletivas, rompendo com as formas tradicionais do teatro dramático.
“Parece ser uma obra comum. Mas no simples há a simplicidade do completo, e é isso que queremos mostrar na peça”, explica Vernek. A trilha sonora foi executada ao vivo, com teclado, saxofone, bateria e percussões, além de um coro sob direção musical de Raylan Marinho.
A realização da nova temporada também foi possível graças ao apoio do Promific, o Programa Municipal de Incentivo Fiscal à Cultura, que viabilizou a produção por meio de renúncia fiscal. O incentivo permitiu que o GTU investisse na cenografia, figurinos e estrutura técnica necessária para levar aos palcos uma experiência artística completa e acessível.
Aquele que diz sim x Aquele que diz não é uma obra que une dois finais diferentes. Após sua mãe ficar doente, o protagonista se aventura em uma expedição com a escola através das montanhas. Durante a viagem, o menino fica doente e tem a escolha de seguir a tradição antiga de ser jogado do vale para não atrapalhar o grupo ou continuar a jornada junto com todos.
A peça aborda as consequências da escolha do menino, a partir do momento que é questionado sobre se será ou não abandonado. Os personagens, que inicialmente apoiam o professor que coordena a expedição, são levados a refletir sobre seu poder de escolher.
A encenação, marcada por uma fisicalidade intensa, convida o público a mergulhar não apenas na narrativa, mas também no processo criativo vivido pelo elenco. “É uma montanha-russa”, relata Amanda Franczak, descrevendo a construção da peça desde os primeiros ensaios. “A gente começa descobrindo o que o corpo pode ou não fazer. Chega um momento em que o espetáculo toma forma e você pensa: ‘cadê o novo?’, mas ele está ali, nas pequenas mudanças, no detalhe do gesto, na respiração do grupo”.
O trabalho corporal é um dos destaques da montagem. A atriz lembra das orientações recebidas durante os ensaios com o diretor Gabriel Vernek e com o diretor musical Raylan Marinho. “A gente canta e já pensa: ‘o Raylan pediu pra usar o diafragma’, ‘a boca tem que fazer desse jeito’. Tudo está no corpo, no movimento, na memória do que foi construído”. O coro, elemento fundamental no teatro épico, é explorado em sua potência coletiva, costurando a narrativa com cenas marcadas por expressividade física e vocal.